Aplicativos para decifrar rótulos de alimentos e cosméticos conquistam franceses
No início de agosto, o aplicativo francês Yuka – semelhante ao brasileiro Desrotulando – ultrapassou o número de 5 milhões de usuários. O Yuka escaneia o código de barras do artigo, decifra as informações nutricionais e emite em segundos uma avaliação sobre seu impacto na saúde, usando quatro cores: vermelho significa ruim; laranja, medíocre; verde-claro, bom; e verde-escuro, excelente.
Na tela do telefone celular, ao lado da imagem do produto, aparece a pastilha com a cor e uma nota sobre 100. O consumidor também visualiza os defeitos do artigo (excesso de gordura saturada ou de açúcar, por exemplo) e as qualidades, que podem ser uma boa quantidade de fibras e proteínas.
O segredo do sucesso do Yuka é a linguagem simples. O aplicativo orienta o consumidor sem fazer referência aos termos técnicos que os industriais são obrigados a marcar no rótulo, mas que a maioria das pessoas não entende o significado. Se o produto é considerado ruim ou medíocre para a saúde, o aplicativo sugere alternativas com notas melhores na mesma categoria.
Na área de alimentação geral, o Yuka possui atualmente 200 mil produtos em sua base de dados. Como este mercado é extremamente competitivo, os industriais mudam com frequência as embalagens e fórmulas, substituem ingredientes e, a cada alteração, muda o código de barras. O trabalho de atualização é diário.
Existem outros aplicativos sobre alimentação mais segmentados. Alguns com o nome em inglês, mas criados por franceses. O Too Good To Go, que em tradução livre seria o equivalente a “bom demais para jogar fora”, é direcionado às pessoas que combatem o desperdício alimentar.
Por meio da geolocalização, esse aplicativo mostra na sua vizinhança onde você pode encontrar produtos próximos da data de vencimento em supermercados ou restaurantes. A pessoa paga um preço bem reduzido e leva para casa uma cesta de alimentos ainda bons para consumo, mas que não podem mais ser vendidos.
Ferramenta para alérgicos
O aplicativo Kwalito ajuda as pessoas que sofrem de intolerância alimentar. A pessoa escaneia o código de barras e verifica se o alimento corresponde à dieta desejada: sem lactose, sem glúten ou outros ingredientes potencialmente incômodos.
O Foodvisor – apesar do nome em inglês, este também é francês – usa recursos de inteligência artificial para ajudar numa dieta equilibrada. Por meio da análise de fotos dos alimentos, a ferramenta estima o número de calorias, de proteínas e fibras.
Para vegetarianos, existe o Veff’Up, que propõe receitas para quem se lança na alimentação sem proteína animal.
Cosméticos
O Yuka introduziu recentemente a avaliação de cosméticos. Cem mil rótulos entraram na base de dados da plataforma, incluindo xampus, condicionadores, tintas de cabelo, sabonetes, cremes hidratantes, desodorantes e dentifrícios. Em março passado, uma associação de consumidores franceses já tinha lançado um aplicativo específico nessa área – Quel Cosmetic?
Nesse caso, as substâncias nocivas apontadas são os potenciais desreguladores endócrinos, ingredientes irritantes para a pele ou que causam alergias, além de outras toxinas. Conservantes como o parabeno, por exemplo, foram proibidos na França. O fenoxietanol, um conservante que inibe a propagação de micróbios e é muito utilizado em cremes hidratantes, tem uma recomendação negativa da agência francesa de segurança dos medicamentos em produtos de higiene para bebês, mas não perdeu sua autorização.
O objetivo dos aplicativos é alertar os consumidores para a presença de produtos que hoje estão no mercado, mas que no futuro podem ser condenados.
Industriais são obrigados a reagir
Os industriais franceses estão cada vez mais sensíveis à vigilância dos consumidores. Nos últimos anos, o óleo de palma, um ingrediente amplamente utilizado em alimentos industrializados caiu em desgraça quando ongs denunciaram que sua extração causava o desmatamento de florestas nativas em países tropicais. As grandes marcas francesas foram obrigadas a substituí-lo nos produtos alimentares.
As menções "sem parabeno" e "sem álcool" passaram a fazer parte das embalagens de desodorantes e outros tipos de cosméticos. A transparência tornou-se um argumento de venda.
Mas a indústria também recorre a especialistas para criticar supostos exageros dessas plataformas colaborativas, lembrando que ingredientes são condenados sem o devido respaldo de estudos científicos.
Escândalos sanitários nas últimas décadas deixaram marcas nos consumidores. Desde a doença da vaca louca, passando pela carne de cavalo vendida como carne de vaca e o leite contaminado, além dos estudos que relacionam uma dieta pobre ao câncer, tudo isso levou os franceses a se preocupar mais com a saúde. Falta eles pararem de fumar.
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