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Senador americano John McCain morre aos 81 anos

26/08/2018 05h37

O senador americano John McCain, um celebrado herói de guerra, conhecido por sua capacidade de negociação em um país cada vez mais dividido, faleceu aos 81 anos neste ...

"O senador John Sidney McCain III morreu às 16h28 de 25 de agosto de 2018. O senador estava acompanhado da esposa, Cindy, e de sua família quando faleceu", informou seu gabinete em um comunicado, que destacou que o senador "serviu lealmente aos Estados Unidos durante 60 anos".

Era uma tradição de família. McCain alegava ser descendente direto de um capitão do exército de George Washington, o primeiro presidente constitucional dos Estados Unidos, durante a Guerra da Independência. Assim como o pai e o avô, todos almirantes de quatro estrelas chamados John McCain, ele viveu para servir ao seu país: primeiro como um piloto de caça da Marinha americana, depois como legislador até sua morte neste sábado de um câncer no cérebro, diagnosticado em 2017.

McCain também poderia ter se tornado um almirante, se um míssil terra-ar de fabricação soviética não tivesse encurtado sua trajetória militar ascendente em 26 de outubro de 1967. No dia de sua 23ª missão no Vietnã, seu caça A-4 Skyhawk foi atingido ao sobrevoar os céus de Hanói. McCain ejetou e caiu de para-quedas em um pequeno lago no centro da cidade, onde quase foi linchado por uma multidão furiosa. Seus dois braços e joelho direito sofreram sérias fraturas.
   
Com seu pai como comandante das forças conjuntas no Pacífico, McCain se tornaria prisioneiro de guerra por mais de cinco anos. Foi libertado em 1973 após os Acordos de Paz de Paris, mas as consequências físicas de suas mal tratadas fraturas e as torturas que sofreu na prisão lhe custaram a carreira de piloto.
   
"Por alguma razão, aquela não era minha hora e eu acredito que por causa disso eu estava destinado para algo", declarou McCain em uma entrevista em 1989.
   
Derrotado por Obama 

Depois de alguns anos como relações públicas da Marinha no Senado, McCain se mudou para o Arizona, o estado natal de sua segunda esposa, e conquistou um assento na Câmara de Representantes em 1982. Sua ambição cresceu e ele rapidamente chegou ao Senado, que se tornaria sua segunda casa por 30 anos.
   
McCain cultivou por muito tempo a imagem de um republicano rebelde, desafiando seu partido em questões como reforma no financiamento de campanha e imigração. Ele não via muita utilidade na disciplina partidária, uma atitude reforçada por seus episódios de rebeldia no passado - como um estudante indomável na Academia da Marinha ou um prisioneiro de cabeça quente que provocava seus captores vietnamitas.
   
"Sobreviver ao meu aprisionamento fortaleceu minha autoconfiança, e minha recusa à liberdade precoce me ensinou a confiar em meu julgamento", escreveu McCain em suas memórias, "Faith of My Fathers", de 1999.
   
Foi este McCain heterodoxo e desenfreado, desdenhoso de autoridade e ocasionalmente arrogante, que se lançou à corrida presidencial no ano 2000. Ele ofereceu aos eleitores sua visão de direita moderada, enquanto manteve a seu alcance os conservadores cristãos que seu oponente entre os republicanos, George W. Bush, tinha seduzido com sucesso.

McCain não conseguiu o feito de obter a indicação de seu partido à Casa Branca, mas solidificou sua estatura e eventualmente herdou o bastão republicano das mãos do presidente impopular Bush.
   
Em 2008, ele fez as pazes com o establishment do partido e finalmente ganhou a indicação à presidência. Com a Casa Branca ao alcance, ele fez uma escolha instintiva e profundamente controversa. Muitos de seus associados nunca o perdoaram por escolher como companheira de chapa uma quase desconhecida, a governadora do Alasca Sarah Palin. A decisão ajudou a assentar as raízes do grupo conservador Tea Party e a ascensão do populismo que depois seria incorporado por Donald Trump.
   
O democrata Barack Obama venceu com facilidade e McCain agora somava duas derrotas. 
   
Decepcionado com Trump
   
Habilidoso com as multidões, também podia ter um temperamento explosivo, sobretudo com temas importantes para ele: as Forças Armadas, o nacionalismo dos Estados Unidos e, nos últimos anos, a ameaça representada pelo presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele denominou de "um assassino e um bandido".

McCain acreditava que os valores dos Estados Unidos deviam ser compartilhados e defendidos em todo o mundo. A eleição de Trump pareceu ter pisado nas lutas e ideais do velho republicano, que rapidamente sentiu-se desapontado pelo isolacionismo e pelo protecionismo do bilionário, sua proximidade com Putin e seu aparente desprezo pela dignidade do cargo presidencial.

Em maio, uma polêmica na Casa Branca envolvendo McCain chocou os americanos. O senador pediu a seus colegas congressistas que que rejeitassem a nomeação de Gina Haspel, indicada por Trump para a direção da CIA, devido ao papel que ela desempenhou no passado em interrogatórios com tortura para extrair informações de prisioneiros no exterior. Como resposta, Kelly Sadler, uma assessora de comunicação do governo americano afirmou que a oposição de McCain não importava porque ele estava morrendo.

“Não importa, ele está morrendo de qualquer maneira”, teria afirmado Kelly Sadler em uma reunião a portas fechadas na Casa Branca. O episódio foi relatado à imprensa americana por um dos participantes do encontro. Poucos dias depois, a assessora de comunicação foi demitida.
   
Mas nada disto fez McCain querer se aposentar. Talvez se inspirando em seu avô, que morreu apenas alguns dias depois de voltar para casa após a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, o trabalho incessante do senador parecia desafiar a morte. Mesmo após sua reeleição em 2016, ele se recusou a descartar outra candidatura ao senado em 2022. A doença acabou por se colocar no caminho de suas aspirações.

McCain deixa a esposa, Cindy, e os quatro filhos do casal, além de uma outra filha de seu primeiro casamento.

(Com informações da AFP)