Jornalistas europeus exigem que gigantes da Internet paguem por conteúdos da mídia tradicional
O abaixo-assinado foi publicado pela AFP em seu portal e divulgado em vários veículos europeus. O artigo questiona a decisão do Parlamento Europeu que rejeitou, no início de julho, uma reforma na lei sobre direitos autorais prevendo a criação desse direito.
Segundo os ativistas, os custos das reportagens de guerra e do jornalismo investigativo estão se tornando proibitivos para os meios de comunicação. "A época em que eu ia para a guerra de paletó e camisa, com um bloquinho de anotações no bolso, ao lado do fotógrafo ou do cinegrafista, acabou. Agora são necessários coletes à prova de balas, capacetes, veículos blindados, planos de seguros e até guarda-costas para evitar sequestros. Quem paga esses gastos? Os veículos, e isso tudo é caro", acrescenta o texto, assinado por jornalistas de renome como o espanhol Javier Bauluz, a francesa Florence Aubenas e o britânico Jason Burke.
Diretor do escritório da AFP em Bagdá, Sammy Ketz já cobriu vários conflitos internacionais. Ele afirma que em razão dos elevados custos, o número de repórteres vem diminuindo e quem perde são os leitores. "Em mais de 40 anos de carreira, eu vi o número de jornalistas no campo diminuir de maneira constante à medida que os perigos não paravam de crescer. Nós nos tornamos alvos e as reportagens são cada vez mais custosas", diz o texto dirigido aos eurodeputados.
Somente este ano, um total de 50 repórteres foram mortos, segundo balanço da Associação Repórteres Sem Fronteiras. “Porém, enquanto são os veículos que produzem os conteúdos e enviam seus jornalistas para arriscarem suas vidas para fornecerem uma informação confiável, plural e completa, com um custo cada vez mais alto, não são eles que recebem os lucros, mas sim as plataformas que os oferecem sem pagar. É como se você trabalhasse e uma terceira pessoa colhesse, descaradamente, os frutos de seu esforço", completa. “Se do ponto de vista moral é injustificável, do ponto de vista da democracia é ainda mais”, afirmam os jornalistas.
Gigantes da Internet
As grandes empresas da Internet conhecidas pela sigla GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple) fizeram uma intensa campanha nas instâncias europeias contra a reforma de direitos autorais, alegando que as mudanças colocariam a gratuidade da rede em risco. Em 2017 o Facebook obteve lucro de US $ 16 bilhões e o Google de US $ 12,7 bilhões. Porém, segundo Ketz, eles só têm que pagar seus impostos e não contribuem para a produção dos conteúdos divulgados.
"Agora, os veículos de imprensa querem fazer valer os seus direitos para poder continuarem informando. Eles pedem o compartilhamento dos lucros comerciais com os produtores desses conteúdos, sejam eles veículos ou artistas. Isso são os chamados 'direitos afins'", completa o texto.
A reforma na lei sobre direitos autorais na União Europeia será debatida novamente em setembro.
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