Lehman Brothers: dez anos depois, profissionais das finanças relembram falência do banco
“Foi como estar no Titanic em câmera lenta. Recebemos vários sinais de alerta anos antes, que se intensificaram três meses antes da queda do Lehman, em setembro de 2008. Para ser preciso, quando o banco faliu, eu estava em casa, era um domingo à noite. Eu entendi na hora que era o fim do Lehman Brothers”, lembra.
Jack conta que, ao chegar no escritório e encontrar os colegas, o clima era de confusão e descrença. “Era surrealista. Sobretudo porque Lehman Brothers estava indo bem. Os resultados do setor de obrigações estavam em alta havia três anos. Foi um choque. Lehman Brothers contava com sete mil funcionários. A maioria remunerada por comissão – e seus salários foram suspensos. Aqueles que eram proprietários de 30% a 40% da empresa sofreram uma perda considerável.”
Para Malvey, deixar o banco morrer foi um erro da administração norte-americana. Mas não havia, na sua opinião, como prever o desastre. “Os acionistas e proprietários do Lehman Brothers mereceram ser punidos. Mas o governo poderia ter tentado pagar as dívidas. Isso teria facilitado as coisas para o mercado de ações. Pessoalmente, como estrategista, com 40 anos de experiência, 30 em 2008, posso garantir que não fui capaz de prever a catástrofe.”
Traição das finanças
Ainda que a crise de 2008 tenha chegado de forma abrupta, ela foi causada pelos próprios bancos, que não souberam considerar os riscos dos empréstimos que estavam sendo feitos – sem nenhuma condição ou avaliação prévia. Isso é o que afirma Georges Ugeux, ex-vice-presidente da Bolsa de Nova York.
“Eu tinha dúvidas quanto a certos aspectos em matéria de finanças, mas não levei em consideração, não achei que fosse tão grave. Era uma situação onde, fundamentalmente, as finanças traíram a economia e a sociedade. Era indispensável colocar as coisas em ordem”.
Ele é autor do livro “A traição das finanças”, onde aponta doze reformas para retomar a confiança na economia. “O que vivenciamos foi um período em que transformamos o sistema bancário, que fazia empréstimos, num sistema de distribuição desses empréstimos no mercado. Os bancos abandonaram sua disciplina de avaliação da qualidade dos créditos e se contentaram em dizer: enquanto estiver funcionando, tudo bem. Então eles abandonaram suas responsabilidades, porque isso permitia ganhar dinheiro rápido.”
Crise afetou diretamente milhões de pessoas nos EUA
A norueguesa Kathlen Stevenson, economista independente, sofreu os efeitos diretos da crise, mas conseguiu se adaptar e recomeçar sua vida profissional. “Na época, eu era diretora de pesquisas econômicas nacionais para o Crédito Suíço, em Nova York, e no momento em que a crise se desenvolveu, muitos bancos de investimentos reagiram rápido e de maneira agressiva. E isso queria dizer cortes e demissões em massa”, revela.
“Fui afetada diretamente porque minha equipe inteira foi demitida. Procurar emprego não era fácil na época, mas tive a oportunidade de trabalhar para uma pequena empresa financeira e depois fui contratada pelo AIG, o American International Group que, em 2010, foi salvo pelo governo". Kathlen pôde fazer parte, nesse momento, da reconstrução da empresa e acompanhou o pagamento dos fundos que o governo norte-americano havia oferecido.
No total, US$ 180 bilhões foram transferidos pelo Estado ao AIG. Em 2010, o governo de Barack Obama conseguiu a aprovação da lei Doddy-Franck, que obriga as empresas “Too big to fail”, grandes demais para falir, a ter um fundo próprio para resistir em caso de crise. Mas para Jack Malvey, o desemprego, logo após a falência do Lehman Brothers, teve um efeito positivo em sua vida: “Minha família logo perguntou se eu passaria mais tempo dentro de casa”, brincou, aos risos.
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