"Europa está sem rumo frente aos desafios do novo mundo", diz jornal francês
A menos de 9 meses para as eleições europeias, o jornal Le Figaro desta quinta-feira (20) compara o bloco a um “pião batendo contra paredes, incapaz de encontrar um caminho para sair da tempestade”. “Impotente, a Europa assiste ao fim de dois mundos: o do pós-1945 e o do fim da Guerra Fria, que haviam, até então, garantido a segurança e a prosperidade”, escreve a jornalista Isabelle Lassere.
Setenta anos após a Segunda Guerra mundial, confrontada a uma situação geopolítica totalmente inédita, a Europa sente sua segurança ameaçada, analisa o diário. Ao leste, há a Rússia, que voltou a se mostrar agressiva, e a China, cada vez mais forte. Ao sul, existe uma ameaça terrorista imprevisível, uma pressão migratória crescente e uma Turquia cada vez mais totalitária. Ao oeste, fica um sentimento de traição, com a saída do Reino Unido do bloco, e ainda mais ao oeste, vemos os Estados Unidos cada vez mais indiferentes e apostando em uma Europa cada vez mais dividida.
O Le Figaro desta quinta-feira descreve como os esforços do presidente francês Emmanuel Macron em “amansar” Donald Trump e Vladimir Putin foram em vão. O primeiro continua ignorando os acordos sobre o clima, sobre o Irã e sobre o livre comércio. O segundo ignora todos os pedidos de Paris, como o pedido de liberação do cineasta ucraniano Oleg Sentsov ou de pressionar o governo sírio de Bachar Al-assad.
Isolada e enfraquecida
A União Europeia, que pensava viver em um mundo sem inimigos e que havia sido criada sob a crença de que os conflitos poderiam ser resolvidos usando normas e o direito, se vê hoje isolada e enfraquecida “por novos ventos de guerra que voltaram a bater a sua porta”, escreve Isabelle Lassere. “Ela que acreditava no multilateralismo, assiste impotente ao crescimento de gestos bilaterais e à vontade de Donald Trump de pôr um fim aos mecanismos de cooperação internacional”, escreve a jornalista.
Frente a essa revolução geopolítica, a Europa está penando para conseguir se organizar e trazer respostas conjuntas sobre diversos assuntos. “O bloco está sofrendo com demasiadas tensões”, comentou recentemente o chanceler da Austria, Sebastian Kurz.
Democracia não é imortal
O jornal francês lembra que uma das grandes dificuldades é o fato de os países do bloco não enxergarem a Europa da mesma forma. Diferenças que se sobressaem em diferentes assuntos, como por exemplo, a situação dos migrantes.
Até a democracia já não é mais uma unanimidade na Europa. “Entre 2000 e 2018, a porcentagem de europeus votando em partidos populistas passou de 5% a 25%”, ressalta o cientista político americano Yascha Mounk, autor do livro O povo contra a democracia. “Precisamos lembrar que até mesmo a democracia não é imortal”, alertou.
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