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Bairro de Curitiba onde Lula está preso se divide entre PT e Bolsonaro, diz Le Monde

26/09/2018 12h10

O jornal francês Le Monde enviou sua corresponde no Brasil, Claire Gatinois, especialmente para uma reportagem no bairro de Curitiba onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra detido. Na matéria, ela relata que as preferências de voto no local, dividem-se entre Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, e  Jair Bolsonaro, candidato do PSL.

Le Monde conta que, “na cidade do juiz anticorrupção Sergio Moro, que se encontra na origem da prisão de Lula, vestir uma camiseta com o rosto do ex-chefe de Estado corresponde a receber insultos, lançados por pedestres que fazem o sinal de um revólver com a mão, um gesto do clã de Bolsonaro, favorável às armas de fogo”.

O jornal francês relembra as origens de Curitiba e do Paraná, se referindo à “terra do alemão”, o “brasileiro branco e loiro nascido da imigração alemã e europeia do fim do século XIX e do começo do século XX”.

Segundo o cientista político Emerson Urizzi Cervi, entrevistado pela correspondente do Le Monde no Brasil, “o Paraná é um estado historicamente conservador”. Ele duvida, no entanto, que o eleitorado local seja completamente bolsonarista: “trata-se, na verdade, de uma eleição contra um candidato, Lula, do que a favor de outro. Jair Bolsonaro soube captar essa tendência”, explica o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Paraná.

Emerson Cervi analisou ainda que “hoje em dia, as pessoas tentam justificar seu voto com argumentos como a corrupção, os valores morais, ou o pretenso comunismo de Lula, sendo que, na verdade, Lula é um social-democrata”. Le Monde avalia que o discurso visando transformar o “ex-metalúrgico” em um perigo para o Brasil foi “resgatado pelo candidato da direita tradicional, Geraldo Alckmin”, que considera Lula e Bolsonaro “as duas faces de uma mesma moeda: o radicalismo”.

Polarização em Curitiba

O jornal francês entrevistou diversos moradores do bairro onde se encontra detido, em Curitiba, o ex-presidente. Simone Weingartner, 30 anos, confirmou que pensa seriamente em votar na extrema direita. Segundo ela, Lula fez “coisas boas” pela educação de seus dois filhos. Mas, “Bolsonaro, ele não roubou”.

Já para a operária aposentada Izabel Aparecida Fernandes, de 59 anos, “Haddad é um homem maravilhoso, e será um outro Lula. Foi Lula quem me tirou da miséria, devo tudo a ele”, diz à reportagem de Le Monde.

O jornal lembra que, além das centenas de pessoas do acampamento que designam Lula como “prisioneiro político”, a “visita de pessoas famosas faz acreditar que o líder de esquerda não foi esquecido”, citando nomes como o ex-presidente do Conselho Italiano, Massimo D’Alema, o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e o intelectual Noam Chomsky.

“Esta preferência é pouco apreciada no bairro”, conta Le Monde, onde “se estima que Lula mereceu seu lugar atrás das grades”. Entrevistada pelo vespertino, Regiane do Carmo Santos, 53 anos, “brigou com todos os seus vizinhos por terem aberto a cozinha aos militantes do PT”. “Em todos os lugares, por aqui só tem eleitores de Bolsonaro”, diz ela ao jornal francês, mostrando as sacadas com bandeiras do Brasil estendidas.