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Argentina abre as portas da reunião de líderes do G20 para Jair Bolsonaro

30/10/2018 18h11

O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Faurie, manifestou nesta terça-feira (30) seu desejo de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, participe como convidado ...

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires.

"O país anfitrião convida as nações e cada uma delas decide como a sua delegação será composta", disse o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Faurie, deixando claro que a presença de Bolsonaro será uma decisão exclusiva do presidente Michel Temer.

O atual chefe de Estado teria de ceder protagonismo num foro usado por aqueles que estão saindo do poder como plataforma de despedida do cenário internacional. "Além disso, Bolsonaro tem pela frente uma etapa de recuperação da sua saúde, com uma nova intervenção, que praticamente durará até o final do ano", lembrou Faurie.

Viagem ao Chile

Ao mesmo tempo, o governo argentino também tenta relativizar a polêmica sobre o primeiro destino internacional de Bolsonaro, que preferiu trocar a tradição dos últimos presidentes brasileiros de ir à Argentina e optou pelo Chile, numa demonstração de uma nova prioridade regional. "Não importa onde Bolsonaro vai em primeiro lugar, mas o grau de integração e de diálogo que teremos", disse o chanceler Jorge Faurie.

O assunto foi debatido nesta terça-feira durante a reunião do presidente Mauricio Macri com o seu gabinete de ministros. Desde domingo (28), o resultado das eleições brasileiras é motivo de análise permanente no governo argentino.

O líder do PSL, Gustavo Bebiano, disse que, por enquanto, não há uma agenda de viagens internacionais definida. A afirmação coloca em dúvida a informação do deputado Onyx Lorenzoni, futuro ministro chefe da Casa Civil, que confirmou as viagens do presidente eleito ao Chile, aos Estados Unidos e a Israel.

"Ainda não há nada confirmado nem ao Chile, nem nenhuma outra viagem. Primeiro vamos terminar de montar a equipe de transição. Depois, os nomes dos ministros. Só depois o presidente verá para onde e quando vai", relativizou Bebiano.

Futuro do Mercosul

O governo argentino ainda tenta digerir as declarações do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de que “nem a Argentina, nem o Mercosul são prioridades”. Guedes tentou  minimizar o impacto da sua declaração, logo após a vitória nas urnas. "Peço desculpas. Não quis em nenhum momento desmerecer nem a Argentina nem o Mercosul, mas a verdade é que o nosso foco neste momento são os nossos problemas internos", defendeu-se.

As desculpas, no entanto, não alteram o objetivo manifesto do novo governo brasileiro de negociar acordos comerciais de forma bilateral com o mundo, quando, por força da União Alfandegária do Mercosul, as negociações só podem ser em bloco e nunca individuais.

Para a alteração dessa modalidade, o Mercosul deveria retornar ao status de Área de Livre Comércio que teve entre 1991 e 1995 – como ocorre na União Europeia – e que permite níveis de integração mais profundos. O governo argentino permanece em alerta sobre o nível da integração que o próximo presidente eleito terá com a região.

35 anos de democracia

Em 1983, a Argentina foi o primeiro país da região a sair de um regime militar. A recuperação da democracia argentina foi ponto de referência para os demais processos democráticos que se seguiram. A Argentina foi também o único país a julgar e a condenar os responsáveis pelas prisões, torturas e mortes durante a ditadura.

Nesta terça-feira, o país comemora os 35 anos da primeira eleição democrática na região depois do período ditatorial. A data coincide com a eleição brasileira que levou os primeiros ex-militares brasileiros ao poder desde o final da ditadura no Brasil.

O chefe da bancada peronista no Senado, o senador Miguel Ángel Pichetto, que lidera a renovação do partido e a principal oposição ao governo Macri no Congresso, pediu que "deixem Bolsonaro governar antes de o julgarem" e classificou as críticas contra o presidente eleito como "definições antecipadas".

Pichetto considera que "o surgimento das Forças Armadas brasileiras são um novo ator na política latino-americana". No calor da vitória de Bolsonaro, o senador também disse que é hora de "reconstruir as Forças Armadas" argentinas porque "o país tem uma estrutura militar totalmente desmantelada e desarmada" e porque "a ditadura já acabou".

"Deve haver um debate sério e político de reconstrução do diálogo e da relação com as Forças Armadas", defendeu o Pichetto, lembrando que os responsáveis pela ditadura argentina estão presos. "Por isso, é preciso olhar para o presente e para o futuro do país, e reconstruir as Forças Armadas", concluiu.

Nesta terça-feira, o presidente Mauricio Macri fez uma homenagem ao ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), primeiro presidente na região em retomar a democracia, como uma forma de pedir a unidade da Argentina, também dividida pela polarização política.