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Na contramão dos alertas ambientais, China reautoriza comércio de chifre de rinoceronte e ossos de tigre

30/10/2018 15h15

Após 25 anos de proibição, a China acaba de reautorizar parcialmente o comércio de chifre de rinocerontes e de ossos de tigres do país.

Do correspondente da RFI em Pequim, Stéphane Lagarde

Será que as crianças do futuro conhecerão os macacos, as girafas e os elefantes apenas através da leitura do Livro da Selva, de Rudyard Kipling? De acordo com o relatório da WWF publicado nesta terça-feira (30), o planeta perdeu 60% dos animais selvagens desde os anos 1970 – dados a serem levados em conta com a nova autorização chinesa relativa aos rinocerontes e tigres.

De acordo com a circular do Conselho de Estado chinês, assinado pelo Primeiro ministro Li Kegiang, o comércio e o uso do chifre de rinoceronte e de ossos de tigre serão, a partir de agora, submetidos a um pedido de autorização ligado às pesquisas científicas, como os estudos genéticos. O texto prevê que os chifres devem vir de rinocerontes criados em cativeiros e os ossos de tigres que morreram por causas naturais.

A venda do material permanece, portanto, proibida a menos que tenha fins de pesquisa. É a vitória do lobby médico contra as associações de proteção ambiental. “É uma boa notícia para a medicina tradicional, porque os ossos do tigre são benéficos para os pacientes. Primeiro, substituímos os ossos de tigre pelos de leopardos, até que esses últimos foram proibidos. Em seguida, passamos a usar os dos gatos, mas eles não têm o mesmo efeito”, explica Shi Xinde, médico da clínica Ren Yi Dang, do centro de Pequim.

Silêncio da parte das associações

Além do uso médico, algumas exceções podem ser feitas: caso os produtos sejam classificados na categoria “antiguidade”, para fins pedagógicos ou em “trocas culturais” aprovadas pelas autoridades chinesas. Os supostos efeitos afrodisíacos encontrados nos materiais já provocaram a morte de milhares de rinocerontes brancos e negros da África e de rinocerontes indianos e tigres de bengala na Ásia.

A nova regulamentação acaba parcialmente com a proibição promulgada em 1993, durante a adesão da China à CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção. Uma decisão imediatamente condenada pela ONG WWF. O Fundo Mundial para a Natureza estima que “o retorno de um mercado legal desses produtos terá consequências devastadoras no nível mundial”.

Todas as associações de proteção animal contactadas pela RFI recusaram comentar o assunto – um incômodo silêncio da parte da WildAid ou da WWF de Pequim. Uma prova de uma certa censura e da pressão que essas ONGs sofrem na China. No fim da tarde desta terça-feira, a administração das florestas convocou as organizações de proteção de espécies ameaçadas para “explicar” a nova lei.