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Brasileiros da Cisjordânia estão indignados com possível transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém

A ativista palestina-brasileira Ruayda Hussein Rabah, nascida no Paraná, e que mora na Cisjordânia há 19 anos - Daniela Kresch/RFI
A ativista palestina-brasileira Ruayda Hussein Rabah, nascida no Paraná, e que mora na Cisjordânia há 19 anos Imagem: Daniela Kresch/RFI

Daniela Kresch

Correspondente da RFI em Tel Aviv

09/11/2018 00h00

Mais de cinco mil palestinos de origem brasileira moram na Cisjordânia. Muitos vêm manifestando sua indignação com a possível transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém: uma promessa de campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro.

De acordo com a ONU, Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada por sua importância para as três maiores religiões monoteístas do mundo: cristianismo, islamismo e judaísmo. Mas a cidade sagrada é considerada por Israel, atualmente, como sua capital indivisível. Já os palestinos querem Jerusalém como sua capital.

No segundo turno das eleições, 90% dos brasileiros palestinos votaram no candidato do PT, Fernando Haddad. A comunidade brasileira na região sempre apreciou a política internacional dos governos petistas, que, para muitos deles, tinha tendência pró-palestina.

Para esses brasileiros, com a possível transferência da embaixada do Brasil, Bolsonaro está complicando a situação e prejudicando a imagem do país no Oriente Médio. 

Veja também:

A ativista e historiadora Ruayda Hussein Rabah, de 48 anos, nascida no Paraná e que mora na Cisjordânia há 19 anos, trabalhou como mesária nas eleições de outubro e presenciou a votação em massa dos brasileiros palestinos em Fernando Haddad para presidente. 

Ela disse ter levado um choque com o anúncio de Bolsonaro. Segundo Ruayda, o Brasil sempre atuou no Oriente Médio como interlocutor e um agente da paz entre israelenses e palestinos e sempre respeitou acordos internacionais e resoluções da ONU.

Violação do direito internacional

A posição dos acadêmicos palestinos sobre a possibilidade da mudança da embaixada brasileira é ainda mais contundente. Segundo Daoud Kuttab, professor de jornalismo palestino, nos territórios palestinos, já se fala em boicotar carne do Brasil, assim como outros produtos. Segundo ele, o país ficaria isolado em termos diplomáticos por violar o direito internacional.

Daoud Kuttab afirma que Bolsonaro está "agindo como fantoche do presidente americano, Donald Trump", que transferiu a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém em abril deste ano para agradar seus eleitores evangélicos. 

O professor palestino também chamou de “circo” e de “exibicionismo” a intenção de Bolsonaro de remover a embaixada palestina em Brasília para outro local. Há uma semana, o pesselista afirmou, em entrevista ao jornal conservador Israel Hayom, de maior circulação no país, que a embaixada palestina fica próxima demais do Palácio do Planalto.

Até agora, apenas a Guatemala seguiu os passos dos Estados Unidos. O Paraguai chegou a fazer o mesmo, mas voltou atrás quatro meses depois.