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Cem anos após Primeira Guerra, nacionalismo volta a ameaçar Europa

12/11/2018 00h00

No dia 11 de novembro, há 100 anos atrás, os sinos tocaram de alegria, celebrando o Armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.

As populações jovens foram dizimadas e as fronteiras profundamente alteradas. As destruições e reparações de guerra alimentaram crises econômicas pavorosas que desembocaram em regimes totalitários na Alemanha, Itália e União Soviética. Um caldo de nacionalismo e ódio responsável por outro conflito planetário ainda mais sangrento: 60 milhões de mortos - na maioria simples civis -, sem falar no extermínio industrializado de 6 milhões de judeus pelo regime nazista.

A integração política e econômica foi a única maneira de evitar uma terceira catástrofe. Começou com os países ocidentais do Velho Continente e continuou, depois da queda do Muro de Berlim, com o “alargamento” dessa construção europeia à Europa central e oriental. Mas o último meio século sem morticínios gerais só foi possível graças à ajuda econômica americana e ao guarda-chuva militar dos Estados Unidos, garantido pela OTAN. 

Hoje, o perigo está de volta: é a fragmentação da integração europeia, atacada por movimentos nacionalistas e nostalgias autoritárias. E o pior é sempre possível quando as nações europeias entram na espiral dos chauvinismos xenófobos. 

Foi por esta razão que o presidente francês resolveu lançar um Foro pela Paz em Paris e convidou 70 chefes de Estado para celebrar o centenário do Armistício de 1918. O jovem líder francês alertou para os perigos do nacionalismo e para a volta “dos velhos demônios”, proclamando claramente que o “nacionalismo é uma traição ao patriotismo”, e denunciando a perda dos valores morais daqueles que “dizem “nossos interesses primeiro”, aconteça o que acontecer com os outros”. Uma alusão direta a Donald Trump e a Vladimir Putin. 

Europa ameaçada

É que a situação está cada dia mais perigosa. A Europa não está só ameaçada por dentro, pelos movimentos xenófobos e nacionalistas. Duas grandes potências, a Rússia e agora os Estados Unidos, de Donald Trump, estão fazendo de tudo para desintegrar e dividir o Velho Continente

Putin ameaça militarmente as fronteiras do Leste e apoia diretamente qualquer movimento ou grupelhos nacionalistas europeus, com fundos e ofensivas massivas e clandestinas nas redes sociais. O objetivo é criar a confusão e a polarização política dentro de cada Estado europeu para favorecer os partidos abertamente nacionalistas. Moscou quer uma Europa dividida e fraca para poder tratar em posição de força e de maneira bilateral com cada país individualmente. 

Paradoxalmente, Washington está na mesma linha. Tanto no campo econômico quanto na área da segurança estratégica, Trump prefere sócios europeus desconjuntados, dependentes do poderio americano, para poder impor o seu “América Primeiro”. As últimas iniciativas do lourão da Casa Branca – a ruptura do acordo nuclear com o Irã, a denúncia do tratado com a Rússia sobre os mísseis nucleares intermediários ou a guerra comercial contra a China – nem se dignaram consultar os aliados europeus. 

A Europa está ameaçada de tornar-se um espaço dividido, imprensado entre o poderio dos Estados Unidos de Trump e as manobras de Putin. Só que em geral, quando os europeus se entregam aos seus “velhos demônios”, isso sempre acaba em conflitos sangrentos. E guerra na Europa é quase sempre sinônimo de guerra mundial. 

Emmanuel Macron entendeu perfeitamente o desafio e, por enquanto, é o único líder com carisma suficiente para propor uma União Europeia mais forte e integrada. Mas se fracassar no intento, o mundo que aperte os cintos. Pode vir chumbo grosso.