Topo

Como a Primeira Guerra Mundial arruinou a economia da Europa

12/11/2018 14h35

O centenário do fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi celebrado em Paris neste domingo (11) com representantes dos Estados envolvidos nos combates. A guerra deixou cerca de 18 milhões de mortos, quase a metade de civis. Uma oportunidade para se recordar como toda a Europa saiu arruinada do conflito.

Por Aabla Jounaïdi

A Primeira Guerra Mundial assinalou a primeira crise demográfica da história, com 10 milhões de combatentes e 8 milhões de civis mortos e identificados durante o conflito. O exemplo da França é ilustrativo nessa questão. Junto à Sérvia, este foi o país mais afetado em proporção à sua população, na época: cerca de 1,4 milhão de soldados mortos.

O número de vítimas, no entanto, não menciona todos os doentes e mutilados que reencontraram com dificuldade seu lugar na sociedade. A França perdeu 10% de sua força de trabalho masculina. O impacto sobre a mão-de-obra disponível em 1918 foi devastador.

Na sequência, a Europa acordou da guerra com um rastro de estradas, pontes, fábricas e praticamente todas as terras agrícolas destruídas. No total, estima-se que a França tenha perdido um terço de sua riqueza anterior ao conflito.

O fenômeno da inflação, até então desconhecido na Europa

Foi um conflito "total", no sentido de mobilização de todos os recursos humanos, industriais, agrícolas e financeiros dos países envolvidos. Durante quatro anos, as principais potências europeias dedicaram 50% do seu PIB ao esforço de guerra.

O conflito causou um fenômeno até então quase desconhecido na Europa: a inflação. A impressão de dinheiro e a especulação fizeram com que as moedas europeias perdessem valor rapidamente.

Para se reconstruírem, os vencedores da guerra fizeram a derrotada Alemanha pagar a conta, em 1918: 32 bilhões de marcos de ouro, metade dos quais foram transferidos à França. Mas a primeira guerra mundial também exigiu que os estados europeus se endividassem interna e externamente.

Os Estados Unidos emprestaram aos aliados o equivalente a US$ 162 bilhões atuais

Os empréstimos, no entanto, deveriam ser usados em grande parte para comprar produtos norte-americanos. Se há um Estado que se beneficiou desse conflito, foram os Estados Unidos. O país não só entrou em guerra apenas em 1917, mas seu território, longe geograficamente do conflito, foi preservado da luta. Neste momento, os Estados Unidos se tornaram o principal credor dos países europeus.

Herdando os estoques de ouro dos aliados em 1918, os norte-americanos acabaram possuindo metade do estoque mundial. Portanto, não foi difícil impor o dólar como equivalente ao ouro, já no pós-guerra. Da mesma forma, Nova York suplantou facilmente Londres no tabuleiro de xadrez das finanças globais.

Um declínio do velho continente?

O cenário levou a crer em uma perda de poder financeiro do bloco, especialmente porque algumas partes do mundo, onde os interesses europeus eram importantes, como a China, a Índia ou a América Latina, emanciparam-se economicamente. E porque os Estados Unidos e o Japão começam a aumentar sua influência no resto do planeta.

Mas se os impérios europeus centrais, como Alemanha, Áustria e Hungria, e as posses da Rússia e do Império Otomano forem desmanteladas, as potências aliadas europeias preservaram seus impérios coloniais.

A guerra afrouxou os laços com algumas colônias europeias porque o comércio foi interrompido. Mas, acima de tudo, a imagem do progresso que os europeus enviaram ao mundo foi permanentemente alterada pelo massacre de 1914-1918. As consequências só seriam verdadeiramente mesuradas mais tarde.

Modernização do parque europeu: a contrapartida da guerra

A França, no entanto, testemunhou uma modernização de suas ferramentas de produção no pós-guerra, com a ascensão do fordismo vindo dos Estados Unidos, o início da linha de trabalho nas minas, e da indústria automobilística em particular.

Muitos imigrantes chegaram para trabalhar. As mulheres, que entraram nas oficinas e fábricas durante a guerra, permaneceram em seus empregos.

Assim, na década de 1920, especialmente a partir de 1924, a Europa festejou novamente a prosperidade. Mas a comemoração durou pouco. A crise de 1929 nos Estados Unidos encorajou os norte-americanos a retomarem seu isolacionismo tradicional, privando os europeus do capital de giro e mergulhando o "velho continente" na crise econômica.

Começando com a Alemanha, cuja dívida em relação aos Aliados havia sido repetidamente revisada. Uma dívida que impulsionou a extrema direita alemã a tomar o poder, com o resultado que conhecemos: a ascensão do nazismo no país.