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Mulher que escondeu bebê durante dois anos no bagageiro do carro é julgada na França

12/11/2018 10h53

Começa nesta segunda-feira (12) o julgamento de um caso que chocou a França em 2013.

A franco-portuguesa Rosa-Maria da Cruz, de 50 anos, começa a ser julgada nesta segunda-feira por violência seguida de mutilação ou enfermidade permanente sobre menor de 15 anos, privação de cuidados ou alimentos comprometendo a saúde de uma criança e dissimulação da existência de uma criança. Por esses crimes, ela pode ser condenada a até 20 anos de prisão.

O caso data de 2013 e é descrito como "um espetáculo horripilante", por um dos homens que trabalhavam na oficina mecânica de Terrasson, sudoeste da França, onde uma menina de dois anos foi descoberta em um berço portátil dentro do bagageiro de um Peugeot 307. Coberta de excrementos, pálida, sem conseguir manter a cabeça em pé e respirando como se estivesse sufocando, a criança foi encontrada porque a mãe, Rosa-Maria da Cruz, parou no local para resolver um problema no carro.

Bagageiro "cheio"

Segundo os mecânicos, a mulher insistiu para que o bagageiro não fosse aberto "porque estava cheio". Mas um dos funcionários da oficina, Guillaume Iguacel, de 39 anos, ficou intrigado com gemidos vindos de dentro do veículo, que imaginou que fossem de um animal. Sem que a mulher percebesse, o homem resolveu chamar um colega, Denis Latour, de 64 anos, que discretamente abriu o bagageiro e se deparou "com a visão do horror".

Os dois homens contam que Rosa-Maria não parecia incomodada ou constrangida com a situação. Ela chegou a consentir que a criança fosse retirada do bagageiro para que os homens lhe dessem água. "Quando a mãe pegou a menina no colo, foi um horror. A cabeça, os braços, tudo estava desarticulado, seus olhos se reviravam", contou Denis Latour, à rádio France Info.

Os dois homens acionaram a polícia e os bombeiros, que confirmam, em seus relatórios, que a criança foi encontrada em um ambiente "de odor pestilento, de putrefação".

Detidos, a mãe e o pai, Domingos Sampaio Alves, também de origem portuguesa, foram ouvidos pela polícia, a quem Rosa-Maria confessou ter escondido por dois anos a criança – que nomeou de Serena - devido à gravidez indesejada. O homem garantiu não saber da existência da menina: embora o carro permanecesse estacionado na garagem de casa, o homem não o utilizava porque não sabe dirigir.

O casal tem outros três filhos, com idades hoje de 11 a 17 anos. Depois da descoberta de Serena, eles passaram um tempo sob a tutela do Estado, mas voltaram para a casa dos pais tempos depois. Rosa-Maria não cumpriu prisão preventiva.

Gestações indesejadas

Entrevistados pela mídia francesa, os familiares de Rosa-Maria, em Portugal, relatam diversas gravidezes indesejadas. A gestação da terceira criança, nascida em 2009, também foi dissimulada até quase o final.

Domingos é pedreiro e diz ter longos dias de trabalho, passa pouco tempo com a família e quase não ter acompanhado as gravidezes de Rosa-Maria.

"Ela teve a criança em casa, praticamente em pé, na escadaria", contou ao Libération um dos vizinhos do casal que ajudou no terceiro parto de Rosa-Maria. Ele se lembra especialmente da reação de Domingos: "quando dissemos a ele que era uma menina, respondeu que não aguentava mais ter filhos".

Dois anos mais tarde, a história se repetiu, desta dez sem que os vizinhos percebessem. Rosa-Maria diz ter descoberto a gravidez quando já estava no oitavo mês de gestação, mas não contou para ninguém.

Em 24 de novembro de 2011, no começo da manhã, a franco-portuguesa deu à luz sua quarta criança, mas sem que ninguém percebesse. "Cortei o cordão umbilical, a segurei nos braços, fiz aquela besteira, a escondi. Depois, acordei os pequenos, os preparei para ir à escola, como se nada tivesse acontecido. (...) Me escondi na minha mentira", contou a mulher à emissora TF1.

Serena, que completará 7 anos em alguns dias, foi adotada por outra família. Devido aos anos que passou em isolamento dentro do bagageiro do carro, a menina sofre de um déficit em seu desenvolvimento físico e mental de 80% e irreversível, segundo os especialistas.