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Conferência sobre jeitinho brasileiro reúne mais de 400 estudantes na França

17/11/2018 16h40

“Inovação à brasileira: qual é o seu jeitinho?” foi o tema da conferência Euroleads, organizada pela associação de estudantes no exterior, Brasa, neste sábado (17), no campus da Escola Politécnica em Palaiseau, na Grande Paris. A conferência sobre inovação reuniu mais de 400 universitários brasileiros de diversas áreas do conhecimento na Europa.

Segundo Letícia Tonholo, presidente da Brasa, associação criada em 2014 para reunir estudantes brasileiros no exterior, a ideia é ressignificar o jeitinho brasileiro, que muitas vezes é associado à malandragem. “O que a gente quer mostrar aqui é que nós, brasileiros, fazemos muito com pouco. A gente se vira nos 30, vai lá e faz”.

Tonholo é mineira, tem 24 anos e atualmente faz um mestrado em matemática aplicada na prestigiada Escola Politécnica francesa, onde aconteceu a conferência, que durou o dia inteiro, com palestras de pessoas tão distintas como Rick Chester, ex-vendedor de água mineral na praia de Copacabana e atualmente influenciador digital e o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central brasileiro, passando pelo médico Dráuzio Varela, o ator e escritor Gregório Duvivier e a escritora e vlogueira Julia Tolezano, conhecida como Jout Jout.

“Nossa ideia era falar de inovação e empreendedorismo, mas resolvemos falar também do jeitinho pelo lado bom. Porque a gente tem tão pouco que, quando nos é dada a oportunidade, a gente aproveita a fundo”, diz ela, referindo-se aos brasileiros em geral.

Ela explica que o sonho da Brasa é “empoderar” a nova geração de líderes brasileiros “por um Brasil melhor”. Para isso, a Brasa atua em três frentes: ajuda no processo de preparação e ajuda para estudantes brasileiros que queiram estudar fora, promove o engajamento e a capacitação dos estudantes que já estão no exterior e conecta os ex-alunos e suas universidades no exterior e no Brasil.

Das areias de Copacabana a Harvard

Até pouco mais de seis meses atrás, Rick Chester, 41, era um vendedor de água mineral em Copacabana. Agora, como escritor e palestrante, ele já viajou dando palestras por todos os 27 Estados brasileiros e já esteve na Universidades de Harvard, nos Estados Unidos, e de Tóquio, no Japão. Pisa pela primeira vez na Europa neste evento, onde também lançou o seu livro, “Pega na visão”, no velho continente.

Chester, que dá palestras sobre vendas e empreendedorismo com teor motivacional, sustenta que “sempre dá para fazer alguma coisa para sair da crise, o que não dá é ficar parado e reclamando”. Ele viralizou com um vídeo no Instagram dando ideias de como superar o crescente desemprego no Brasil.

“Eu criei a conta quando ainda vendia água em Copacabana, sem me vitimizar, mostrando que dá para fazer alguma coisa”, diz o ex-morador do morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, que hoje mora num condomínio em frente ao morro.

A estudante paraense Talissa Baía foi uma das que fez fila para ganhar o autógrafo de Chester. Aos 21 anos, ela estudo biotecnologia em Toulouse, na França, num intercâmbio com a Universidade Federal do Pará. “É muito interessante estar aqui e ver como aplicar estas inovações, ver como o empreendedorismo pode ser voltado para a sociedade, ver exemplos de brasileiros inovando pelo mundo”.

“Acredito que esta experiência vai me ajudar a trazer um feedback das práticas que aprendo aqui para a minha cidade, Belém”, diz a estudante que tem bolsa da Capes e se especializa em biologia computacional aplicada à biotecnologia.

Black Rocks

A aceleradora de negócios Maitê Lourenço circulava pelo hall de entrada do anfiteatro Poincaré, onde aconteceram as palestras, acompanhada da vlogueira Jout-Jout, quando falou com a reportagem, por indicação da segunda.

“O Black Rocks é uma iniciativa que incentiva a população negra a acessar o ecossistema de inovação, tecnologia e startups, ou seja, a gente está desenvolvendo o potencial de novos empreendedores em startups para chegar em lugares que a gente nem imagina, porque a tecnologia promove isso”.

Havia poucos negros entre os universitários brasileiros que foram a conferência. “Vir pra cá é uma provocação, para a gente olhar para o lado e ver o quanto falta da população negra aqui. O curioso é que a gente ouve muito falar em meritocracia, em oportunidade, mas, quando a gente vê a cara da oportunidade, é uma cara branca, de um menino, de um jovem de classe média”, diz Lourenço.

“A gente tem um potencial enorme. A gente vê essas políticas afirmativas que foram postas em prática nos últimos anos confirmando que a população negra e pobre quer, sim, estar nestes espaços, então vale a pena estar aqui para fazer esta provocação”, completa a neuropsicóloga e ex-bolsista do ProUni.

Para Jout Jout, o jeitinho brasileiro é justamente esta capacidade “de sobreviver, de fazer dar certo e rir no final”. “A galera está na luta e vai seguir.”