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Rohingyas serão confinados em casas de 2,5 metros a 30 km de Bangladesh, diz especialista

30/11/2018 16h36

A crise humanitária em Bangladesh após o êxodo dos rohingyas continua, com 700.000 pessoas forçadas a fugir da violência do exército birmanês. Os campos do país estão superlotados, e as condições de vida deploráveis. Por esta razão, o governo decidiu construir uma estrutura sólida na ilha de Bhasan Char, no litoral de Bangladesh, com o objetivo de instalar alguns desses deslocados que não querem voltar para a Birmânia. A iniciativa é criticada por algumas Ongs, que falam sobre uma nova "prisão aberta" para os refugiados desta minoria muçulmana, como explica Alice Baillat, especialista em Bangladesh do Instituto para Relações Internacionais e Estratégicas (Iris).

A crise humanitária em Bangladesh após o êxodo dos rohingyas continua, com 700.000 pessoas forçadas a fugir da violência do exército birmanês. Os campos do país estão superlotados, e as condições de vida deploráveis. Por esta razão, o governo decidiu construir uma estrutura sólida na ilha de Bhasan Char, no litoral de Bangladesh, com o objetivo de instalar alguns desses deslocados que não querem voltar para a Birmânia. A iniciativa é criticada por algumas Ongs, que falam sobre uma nova “prisão aberta” para os refugiados desta minoria muçulmana, como explica Alice Baillat, especialista em Bangladesh do Instituto para Relações Internacionais e Estratégicas (Iris).

Desde pelo menos 2015, o governo de Bangladesh desenvolve a ideia de concentrar uma parcela dos refugiados rohingyas nesta ilha, formada em 2006. De acordo com a agência Reuters, a construção de estruturas para acolhê-los avança com rapidez.

As condições de habitação, no entanto, serão duras: de acordo com imagens reveladas pelo jornal britânico The Guardian nesta quarta-feira (28), as famílias rohingyas serão alojadas em cubos de 2 x 2,5 metros, com pequenas janelas, bloqueadas por barras de ferro.

Nas últimas semanas, as prisões de membros dessa minoria muçulmana se multiplicaram. A polícia de Bangladesh anunciou nesta sexta-feira (30) que havia prendido 10 refugiados que se preparavam para partir para a Malásia, incluindo seis mulheres jovens e quatro homens.

Dois dias antes, as autoridades birmanesas anunciaram a prisão de 93 rohingyas nas águas territoriais do país. Forçado a voltar para o oeste do país, este é o terceiro barco a tentar fugir para a Malásia por mar a ser detido pela polícia birmanesa nas últimas duas semanas.

Medo da proximidade com a Birmânia

Depois de vários atrasos, Bangladesh deveria ter lançado, em meados de novembro, a repatriação de um primeiro grupo de 2.251 refugiados. Mas nenhum candidato chegou à fronteira entre este país e a Birmânia, porque muitos temem retornar por medo de mais abusos ou de serem imediatamente confinados nos acampamentos improvisados do Estado de Rakhine.

A concentração destes refugiados na ilha de Bhasan Char causa problemas, de acordo com a especialista em Bangladesh, Alice Baillat, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS). "Nós sabemos que esta ilha é vulnerável a vários riscos climáticos, incluindo inundações e ciclones, que na verdade expõem os rohingyas que habitarão nesta ilha a graves ameaças climáticas", disse a pesquisadora.

 O segundo problema é que se trata de uma ilha extremamente isolada, a 30 quilômetros da costa de Bangladesh, cujo acesso leva várias horas de barco. “Isto levanta a questão da liberdade de movimento dos rohingyas que irão para o local: eles poderão deixar a ilha se assim o desejarem? Isso nós não sabemos", afirmou Baillat.

Confinados

A especialista afirma que os refugiados serão abrigados por famílias em espaços extremamente confinados, com muito poucos banheiros disponíveis. “Por isso, a iniciativa do governo de Bangladesh também levanta questões sobre o respeito pela sua dignidade e seus direitos humanos”, detalha a pesquisadora.

“Por que o governo está tomando essa decisão hoje? Eu acho que eles vêem isso como uma resposta ao atual congestionamento dos campos. E a repatriação não é possível no momento, por causa dos vários bloqueios políticos e particularmente a relutância das autoridades birmanesas sobre esta questão, deve ser visto como uma espécie de boa vontade do país, para encontrar respostas em relação a esta crise que dura para sempre”, analisa Baillat.