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Bolsonaro rompe com diplomacia tradicional da maior potência da América Latina, diz revista francesa

03/01/2019 10h28

A imprensa francesa continua repercutindo nesta quinta-feira (3) os primeiros passos do governo Bolsonaro em Brasília. A revista conservadora Le Point cita frases do discurso de posse do chanceler Ernesto Araújo, destacando o trecho em que ele afirmou que o Brasil vai "lutar para reverter a globalização e empurrá-la de volta ao seu ponto de partida".

A imprensa francesa continua repercutindo nesta quinta-feira (3) os primeiros passos do governo Bolsonaro em Brasília.

Le Point diz que Araújo compartilha com o presidente Jair Bolsonaro uma rejeição radical aos governos de esquerda do Partido dos Trabalhadores, que teriam introduzido o "marxismo cultural" na diplomacia brasileira. "O novo ministro disse claramente que o governo Bolsonaro vai promover uma ruptura em relação à diplomacia tradicional da maior potência na América Latina", cita a Le Point, baseada em informações da agência AFP.

Os modelos de admiração do chanceler atualmente no mundo são os Estados Unidos de Donald Trump, além de Israel, Itália, Hungria e Polônia, três países europeus marcados pelo retorno de políticas ultraconservadoras e populistas, e os países latino-americanos que combatem "a tirania" de Nicolás Maduro na Venezuela.

FHC declara ao Le Figaro que Bolsonaro não é bobo

O jornal conservador Le Figaro, n°1 do país em tiragem e audiência na internet, diz que os primeiros a viver na pele as mudanças do governo Bolsonaro – "determinado a combater o socialismo e a se consagrar a valores verdadeiros" – serão os índios da Amazônia, cuja demarcação de terras foi entregue ao Ministério da Agricultura, controlado pelo agronegócio. "Muito poderoso, o lobby agrícola brasileiro trava uma luta contínua contra o reconhecimento dos direitos dos indígenas a suas terras", explica o jornal, descrevendo na sequência as mudanças radicais previstas em várias áreas.

Em entrevista ao Figaro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que a eleição de um presidente de extrema direita no Brasil não representa uma crise da democracia brasileira, mas o fim de um sistema político tradicional, com instituições que não conseguem responder às demandas da população expressas nos debates pela internet e pelas redes sociais.

FHC descreve Bolsonaro como um homem simples, que sabe falar às pessoas comuns, eleito por dispor de qualidades e longe de ser bobo. Descrevendo a situação preocupante nas favelas, com o crime organizado "no comando de tudo", FHC diz que o nível das relações entre o crime e o poder local tornou-se perigoso no Brasil. Para FHC, Bolsonaro "compreendeu a necessidade de restabelecer a ordem no país, dando aos pobres o direito de viver com mais segurança".

Questionado se Bolsonaro pode fazer um bom governo, FHC afirma que "diante da falência do sistema tradicional de partidos, da mídia e da justiça", Bolsonaro sentiu que havia uma brecha. Mas ele vai, segundo o ex-presidente, encontrar forte resistência de corporações que vão tentar lhe impor um fracasso. "Eu não sei como Bolsonaro vai conseguir, ao mesmo tempo, o apoio do Congresso, respeitar as leis e manter sua popularidade", declara FHC.