Bairros chavistas se aliam à classe alta contra Maduro, diz especialista
Desde que Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional na Venezuela, se autoproclamou presidente interino nesta quarta-feira (23), o país está dividido: a cúpula militar apoia Nicolás Maduro, mas a população de bairros mais pobres, tradicionalmente chavistas, começa a se aliar ao novo dirigente, que prometeu organizar em breve novas eleições.
Desde que Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional na Venezuela, se autoproclamou presidente interino nesta quarta-feira (23), o país está dividido: a cúpula militar apoia Nicolás Maduro, mas a população de bairros mais pobres, tradicionalmente chavistas, começa a se aliar ao novo dirigente, que prometeu organizar em breve novas eleições.
A “convergência” entre esses bairros é a novidade da crise política que atravessa a Venezuela, disse Serge Ollivier, historiador francês do Instituto de Altos Estudos de Ciências, entrevistado pela RFI. Segundo ele, o povo que apoia Guaidó é “heterogêneo”, o que representa uma mudança fundamental na crise política do país.
“Contrariamente às manifestações que ocorreram em apoio à oposição, em 2017, centralizadas no leste de Caracas, onde ficam os bairros das classes mais altas, desde quarta-feira há também protestos em bairros populares, historicamente chavistas”, explica. Esses bairros, diz, não seguiam o movimento dos bairros do leste da capital, tradicionalmente de oposição ao governo.
Esta também foi a constatação do correspondente da RFI na Venezuela, Benjamin Delillle, que foi à favela de Petare, a maior da América Latina, entrevistar os venezuelanos. Andrez, morador do local, disse que viu pela primeira vez os jovens da região enfrentarem as forças chavistas. Ele espera por uma solução pacífica. “O governo controla cada vez menos o país. Não quero uma invasão, quero que tudo termine pacificamente”, declarou Andrez.
Para Ramon, um outro morador, a autoproclamação de Guiadó não é uma boa ideia. “Ele deveria se sentar em uma mesa com Maduro para avançar as coisas”, opinou. A população é a principal afetada pelo caos político e social que domina o país, com inflação de 1 milhão por cento.
Militares subalternos podem se rebelar
Sem o apoio das Forças Armadas, Juan Guaidó tem poucas chances de se manter no poder depois de ter se autoproclamado chefe de Estado, acredita o especialista francês. “Seria muito difícil e complicado para ele”, diz. Ele lembra que o comando militar apoia, sem surpresa, o governo Maduro, que nomeou 2.000 generais para cargos importantes. Muitos são governadores.
Mas, os militares subalternos, salienta o pesquisador francês, estão sofrendo com a crise, como o restante dos venezuelanos. “Se eles forem obrigados a reprimir de maneira sistemática as manifestações, será um teste de lealdade”, analisa Ollivier.
Estados Unidos reconhecem Guaidó
Os Estados Unidos reconheceram o presidente interino Juan Guaidó, em uma verdadeira reviravolta política na história das relações com Caracas, observa o historiador francês. “O interesse é entrar em um braço de ferro com a China e a Rússia, já que os aliados de Caracas, entre eles a China e a Turquia, reagiram”, avalia o pesquisador. Diversos países, entre eles, a França, manifestaram apoio a Guaidó, lembrando, entretanto, a importância de inserir sua chegada ao poder em um processo democrático, com a convocação de novas eleições.
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