"Descuido, negligência e impunidade": imprensa francesa repercute tragédia de Brumadinho
Os principais jornais franceses desta segunda-feira (28) repercutem a tragédia de Brumadinho (MG). O número de mortos após o rompimento da barragem da mineradora Vale subiu para 58, enquanto 305 pessoas seguem desaparecidas.
Os principais jornais franceses desta segunda-feira (28) repercutem a tragédia de Brumadinho (MG). O número de mortos após o rompimento da barragem da mineradora Vale subiu para 58, enquanto 305 pessoas seguem desaparecidas.
"O Brasil é atingido por uma nova tragédia" é a manchete do jornal Le Figaro. O correspondente do diário no Rio de Janeiro lembra o drama de Mariana, em 2015, "que deixou cerca de 300 mortos e desaparecidos e provocou graves danos ao meio ambiente". "As palavras para descrever as catástrofes no Brasil são sempre as mesmas: descuido, negligência e impunidade", escreve o jornalista.
O jornal Les Echos destaca que o diretor da Vale, Fernando Schvarstman, reconheceu a gravidade do acidente, mas afirma que, desde 2015, a empresa redobrou a atenção e modernizou a estabilidade de seus sistemas. A barragem de Brumadinho não era considerada de alto risco pelas autoridades e havia sido inspecionada recentemente, segundo Schvarstman.
Entretanto, no ano passado, a Vale teria obtido rapidamente uma autorização por parte de responsáveis locais para intensificar as atividades do complexo do qual Brumadinho faz parte. "Apenas 3% das 25 mil barragens do Brasil foram inspecionadas em 2017", salienta o Les Echos.
Não é à toa que, após a tragédia de sexta-feira (25), a população teme que o drama se acentue, publica o jornal Libération. "Na manhã de domingo, a Vale alertou os moradores sobre a possível ruptura de uma outra barragem do local. As equipes de resgate tiveram que interromper as buscas, antes que o risco voltasse a ser descartado", publica Libération.
Quanto ao impacto sobre o meio ambiente e a saúde dos habitantes, os danos são ainda difíceis de medir, reitera o diário, lembrando a alta toxicidade da lama que invadiu a região. Para piorar, há ainda a possibilidade de que o rio São Francisco, que nasce em Minas Gerais e se estende até o Nordeste, seja contaminado.
"Até quando?"
"Desolação e revolta no Brasil", diz o jornal La Croix, que ouviu moradores de Brumadinho, muitos deles desesperados com o desaparecimento de familiares. "Até quando?", se pergunta uma mulher que perdeu o marido e a filha na tragédia, entrevistada pelo diário.
La Croix lembra que três anos após Mariana, nenhum responsável foi condenado, a indenização das vítimas acontece lentamente e o processo ainda corre na Justiça. O diário salienta que o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região de Brumadinho no sábado e afirmou que "a questão da Vale do Rio Doce não tem nada a ver com o governo federal". "Uma declaração criticada, quando uma resposta das autoridades a essas catástrofes humanas e ambientais é reclamada no país", conclui La Croix.
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