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Nos Emirados, papa Francisco defende cristãos e diálogo com outras religiões

04/02/2019 00h00

O papa Francisco, e o grande imã, Ahmad el-Tayeb, a maior referência para os sunitas no mundo participam de um dos maiores encontros entre religiões do mundo realizado nos Emirados Árabes Unidos, nesta segunda-feira (4).

O papa Francisco, e o grande imã, Ahmad el-Tayeb, a maior referência para os sunitas no mundo participam de um dos maiores encontros entre religiões do mundo realizado nos Emirados Árabes Unidos, nesta segunda-feira (4).

Richard Furst, correspondente da RFI nos Emirados Árabes Unidos

Desde o início do pontificado, em 2013, Francisco já visitou 41 países ao longo de 27 viagens, mas esse talvez seja um dos deslocamentos mais importante do papa. Primeiro, porque jamais na história houve uma aproximação física tão grande entre o cristianismo e o islamismo como o que está acontecendo hoje, em Abu Dhabi. A Península Arábica é dominantemente muçulmana e uma autoridade católica desse porte jamais havia visitado o país.

O papa foi recebido neste domingo (3) no aeroporto de Abu Dhabi por soldados vestindo trajes típicos em uma recepção “atípica”, descreve nosso correspondente em Abu Dhabi Richard Furst. O pontífice, diz, está sendo recebido com honrarias de Estado e vai celebrar a primeira missa em um espaço aberto, ou seja, fora de igrejas e para um público acima de 130 mil pessoas. A celebração está marcada para esta terça-feira (5) pela manhã em Abu Dhabi, em um estádio da capital dos Emirados. O papa só vai visitar Abu Dhabi. A população de Dubai, por exemplo, interessada na visita, terá de viajar os 100 Km que separam as duas cidades.

A segurança não foi especialmente reforçada para a visita do papa. É quase imperceptível o maior número de soldados nas ruas, mas há maior vigilância. O que impressiona, assim como em outras viagens do pontífice, é a quantidade de carros ao redor do veículo que o papa circula aqui nos Emirados.

A visita tem muitos apelos, entre eles a aproximação de cristãos e muçulmanos. Francisco deve falar sobre situação caótica no Iêmen, onde forças militares de Abu Dhabi intervêm ao lado da Arábia Saudita. O assunto provavelmente foi tema da conversa com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohamed bin Zayed al-Nahyane, neste domingo (3).

Talvez este seja até um dos motivos do papa ter decidido tão rapidamente viajar aos Emirados, porque a questão no Iêmen é urgente e dura quatro anos, provocando fome e falta de abastecimento de comida e água em vários pontos do país. A rivalidade que se intensifica entre o Qatar e os Emirados também é motivo de preocupação. Houve críticas e há indícios de que vizinhos, como o Qatar, apoiem integrantes da Irmandade Muçulmana, o que não agrada aos líderes de Abu Dhabi.

Um milhão de católicos

Nos Emirados Árabes Unidos, há liberdade cultural e determinada tolerância. Aproximadamente um milhão de católicos vive nos Emirados, algo em torno de 10% da população. O dia de ir à missa no país nos Emirados é na sexta-feira e não no domingo, dia de folga da maioria dos fiéis. A maioria dois fieis trabalha pesado na limpeza de hotéis e na construção civil. Muitos estrangeiros são taxistas. A maioria terá de deixar o país ao completar 65 anos. A lei do país determina que, caso não comprovem renda muito alta, os trabalhadores terão de voltar às origens ou deixar os Emirados. Uma questão que a viagem do papa poderá ajudar a melhorar.