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Veto a projeto de fusão entre Alstom e Siemens revela tensão entre europeus

06/02/2019 08h35

As dificuldades enfrentadas pela União Europeia para construir projetos industriais capazes de enfrentar a concorrência da China e dos Estados Unidos são discutidas pela imprensa nesta quarta-feira (6).

As dificuldades enfrentadas pela União Europeia para construir projetos industriais capazes de enfrentar a concorrência da China e dos Estados Unidos são discutidas pela imprensa ...

O diário econômico Les Echos informa que a Comissão Europeia deverá vetar o projeto de fusão da francesa Alstom com a alemã Siemens, uma operação desejada pelos governos da França e da Alemanha para formar um grande grupo europeu na área de transporte ferroviário.

Segundo Les Echos, o argumento de que a fusão seria necessária para resistir à concorrência do grupo chinês CRRC não convenceu a poderosa comissária europeia da Concorrência, a dinamarquesa Margrethe Vestager, que inspirou a personagem principal da série de TV Borgen. Mas o jornal discorda desse ponto de vista.

Antes da coletiva da comissária, prevista no fianl da manhã desta quarta-feira em Bruxelas, o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, antecipou que a proposta seria vetada. "Acredito que a decisão está tomada", afirmou o ministro no canal de TV France 2, sublinhando que se tratava de um "erro econômico" que "vai servir aos interesses da China".

Erros de avaliação no passado

Les Echos entrevistou o advogado Dan Roskis, de um escritório de consultoria especializado nessa área. Ele explica que é raríssimo a União Europeia rejeitar fusões, mas isso já aconteceu no passado com a Schneider e a Legrand, duas empresas francesas do ramo de instalações elétricas, e também entre a americana UPS e a holandesa TNT Express, de remessas expressas.

Os argumentos de Vestager para vetar a fusão entre a Alstom e a Siemens são que a operação poderia provocar um aumento nos preços das tarifas do transporte ferroviário para os usuários finais, elevar o custo de construção de trens, metrôs e equipamentos de sinalização, além de uma redução da oferta desses produtos no mercado e mesmo uma regressão nos investimentos em inovação, explica o advogado.

Outros especialistas evocam as consequências sociais de uma fusão, que certamente levaria à redução de empregos. Os dois grupos fabricam os mesmos produtos, e uma fusão provavelmente geraria uma reestruturação das atividades em escala mundial, com a demissão de centenas de trabalhadores.

Caso o veto venha a ser confirmado, França e Alemanha podem apresentar um recurso para discussão nos tribunais. Como recorda o advogado Dan Roskis, a rejeição ao projeto de fusão da UPS com a TNT Express se revelou um erro, porque o grupo americano Fedex acabou comprando a holandesa TNT, aumentando sua fatia de mercado na Europa. No caso da Schneider, o "não" da Comissão Europeia foi sancionado com uma multa de € 50 mil pelo prejuízo que causou à empresa.    

O jornal Opinião nota que a resistência de Vestager à fusão da Alstom com a Siemens está lhe custando duras críticas. A comissária dinamarquesa, que já foi cotada para presidir a Comissão Europeia, está sendo vista como uma tecnocrata retrógrada, ingênua e movida por ideologia, diz a publicação. Na avaliação desse jornal, o momento é ruim para criticar a comissária, que realizou uma avaliação técnica sobre a fusão. Opinião lembra que tudo é motivo, atualmente, para os partidos populistas dizerem que a Comissão Europeia não serve para nada. Não deixa de ser verdadeiro que encontrar consensos na Europa é uma tarefa árdua.