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Brasil defende negociação com Exército Bolivariano para derrubar Maduro

25/02/2019 23h00

Depois da reunião do Grupo de Lima, nessa segunda-feira (25) na Colômbia, a situação segue tensa na Venezuela. O governo brasileiro critica uma ação armada de outras nações no país vizinho e quer convencer os militares venezuelanos a mudar de lado, retirando o apoio que oferecem a Nicolás Maduro.  

Depois da reunião do Grupo de Lima, nessa segunda-feira (25) na Colômbia, a situação segue tensa na Venezuela. O governo brasileiro critica uma ação armada de outras nações no país vizinho e quer convencer os militares venezuelanos a mudar de lado, retirando o apoio que oferecem a Nicolás Maduro.  

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

O vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, acha que a saída para a crise na Venezuela não está num confronto armado, mas numa negociação direta com os representantes das Forças Armadas bolivarianas, que hoje apoiam Nicolás Maduro no poder. A avaliação dele é que, ao se tirar esse sustentáculo de Maduro, ele se isola e cai.

Mourão negou a possibilidade de o Brasil ceder passagem em território nacional para a entrada de tropas americanas no país vizinho. E, no encontro do Grupo de Lima, nessa segunda-feira (25) em Bogotá, na Colômbia, discursou dizendo que o governo brasileiro vai trabalhar para uma saída sem intervenção.

“O Brasil acredita firmemente que é possível devolver condições democráticas à Venezuela sem qualquer medida extrema que nos confundam com nações agressoras e violadoras da soberania de outros povos”, disse o vice.

Para o especialista em relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, José Romero, o caminho para isolar Maduro e permitir que a Venezuela encontre uma saída que fortaleça a democracia é por meio da negociação com as Forças Armadas daquele país. Do contrário, avalia que a população venezuelana estaria suscetível a uma crise ainda mais aguda e sem fim.

“Talvez o caminho mais factível e menos traumático seja, sim, a pressão sobre os militares venezuelanos que hoje apoiam Maduro. Até porque se fosse pensar em exemplos de intervenções, como ocorreu no Iraque, elas só prolongaram o sofrimento da população sem qualquer chance de sucesso”, afirmou.

Romero também falou que isso teria consequências para o lado brasileiro.

O professor Antonio Celso Alves Pereira, especialista em Direito e Relações Internacionais da UFRJ, diz que a tradição brasileira é de não intervenção em outros países e acredita que isso irá prevalecer no caso venezuelano.

Alves Pereira lembra que a tradição brasileira sempre foi de negociação diplomática, sem intervenção. "Apenas na ditadura e na Guerra Fria isso foi quebrado, no caso da República Dominicana”, disse o professor da UFRJ.

Em maio de 1965, durante a presidência do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, o Brasil enviou cerca de 1,3 mil militares para participar, ao lado de tropas dos Estados Unidos e de outros países, da invasão da República Dominicana.

Os americanos queriam evitar o retorno ao poder de Juan Bosch, fundador do Partido Revolucionário Dominicano, que após um longo período de ditadura no país caribenho iniciou um programa de distribuição de terras e nacionalização de empresas estrangeiras. Washington justificou a intervenção para evitar o surgimento de "uma nova Cuba" na região. O Brasil saiu do conflito com a fama de nação subserviente aos Estados Unidos e quatro soldados brasileiros mortos. 

Estados Unidos defendem pressão econômica

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, participou da reunião do Grupo de Lima e defendeu duas frentes: o estrangulamento econômico das forças de Maduro, com sanções ainda mais pesadas por parte dos países na área comercial e também financeira, identificando onde estão aplicações de venezuelanos que apoiam Maduro. Depois, Pence se dirigiu aos militares bolivarianos:

No encontro, Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela, pediu que todos os cenários sejam analisados. Ele citou índios que foram mortos na fronteira com o Brasil e a recusa da oferta humanitária enviada pelo país. O opositor disse que o momento exige firmeza e não sutileza: “Não há dilema quando se está entre a ditadura e a democracia”, afirmou.