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"Sou um mensageiro da arte", diz brasileiro campeão mundial de Hip Hop

25/02/2019 23h00

Com a vitória da equipe Red Bull All Star no Battle Pro de Paris, o campeonato mundial de Hip Hop disputado no último final de semana, o dançarino brasileiro Neguin acrescentou mais um título na sua impressionante galeria de conquistas.  

Com a vitória da equipe Red Bull All Star no Battle Pro de Paris, o campeonato mundial de Hip Hop disputado no último final de semana, o dançarino brasileiro Neguin acrescentou ...

O brasileiro integra o grupo que reúne alguns dos melhores B-Boys da atualidade, nome dado aos dançarinos de breaking, como os praticantes preferem chamar essa arte com origem no Hip Hop americano.

Assim como seus companheiros de equipe, Neguin saiu do palco ovacionado por milhares de fãs que lotaram La Seine Musicale Arena. O reconhecimento do público já se tornou uma constante na carreira do paranaense, que hoje corre o mundo exibindo seu talento.

“Sou um mensageiro da arte”, diz o brasileiro consagrado campeão mundial em 2010 em uma categoria individual. O título se somou a pelo menos outros 10 erguidos em campeonatos pelo Brasil e em competições pela América do Sul, Canadá e Estados Unidos.

O talento para a dança surgiu cedo. Aos quatro anos, Fabiano Carvalho Lopes já praticava capoeira e na adolescência descobriu o Hip Hop, ou o breaking, denominação que prefere. “Misturei então meu conhecimento da capoeira com o breaking. Misturei os estilos e criei meu próprio jeito de dançar”, explicou na entrevista à RFI, nos bastidores do campeonato mundial.

Do início da carreira, lembra também que deixou o país natal por falta de apoio. “Ser artista no Brasil é difícil. A galera que não me apoiava antes hoje me pede para tirar fotos comigo e me segue nas redes sociais. Obstáculos sempre vamos ter, mas é preciso acreditar no sonho e correr atrás”, afirma o paranaense que como B-Boy abriu fronteiras para enfrentar um mundo cheio de desafios e competições. 

Neguin lembra que as portas do Brasil para o breaking foram escancaradas por Pelezinho quando em 2005, em Berlim, foi à semifinal do Campeonato Red Bull BC 1, uma das competições mais importantes do circuito. A trajetória revelou o grande talento dos brasileiros para o breakdance e serviu de inspiração. “A galera percebeu que o estilo brasileiro é muito dinâmico, tem muita ginga, não só no futebol, mas no B-Boy também”, explica.

A campanha da equipe Red Bull All Star no campeonato mundial parisiense começou pela batalha contra o Time Brasil. A disputa contra os compatriotas foi dura, mas o favoritismo prevaleceu e Neguin se mostrou orgulhoso com a evolução do breaking do país. “O Brasil sempre foi destaque e é bem visto na cena. A gente representa da melhor forma e o Brasil está entre os melhores do mundo”.

Breakdance nas Olimpíadas

Antes do resultado final da competição de Paris, B-Boys e os fãs de hip hop demonstraram um forte apoio à proposta do Comitê Paris 2024 de integrar o breakdance como modalidade do programa olímpico.

Se aprovada pelo COI em dezembro de 2020, será a primeira vez que a dança acrobática será disputada como competição oficial dos Jogos. Neguin também aprova a iniciativa.  

“Acho uma ótima, apesar da dança não ser considerada um esporte, apesar de termos o mesmo aspecto físico, mental e espiritual de um atleta. Mas é muito gratificante ter nas Olimpíadas. Vai mostrar mais informação para o mundo inteiro sobre o breakdance e o breaking, que é a terminologia correta”, explica.

“Nunca precisamos das Olimpíadas. A comunidade do breaking é grande no mundo inteiro, mas com os Jogos, certamente virão para somar, principalmente para as novas gerações. É um grande passo para a cultura Hip Hop em geral”, acrescenta.  

No entanto, o brasileiro também diz respeitar as opiniões contrárias, que se opõem à entrada da modalidade nas Olimpíadas, com receio de que ela perca sua essência de arte oriunda das ruas.

“Não vai perder essência. Se quiser manter a essência vai para a rua, para os clubs, campeonatos. E pode ir para as Olimpíadas também. Não tem barreiras, vamos estar em todos os meios possíveis”, defende.  

Aos 27 anos, Neguin não tem a expectativa de estar no palco para disputar uma medalha pelo Brasil. “Eu não vou competir, mas talvez esteja lá como treinador ou jurado”, prevê.  

Até lá, vai continuar percorrendo o mundo para divulgar sua arte que amplia cada vez mais uma imensa legião de fãs de diferentes gerações. “O que me motiva é o fato de inspirar muitas pessoas. Hoje tenho milhares de seguidores no mundo, que gostam do meu trabalho e tento ficar o máximo ativo possível para compartilhar minha arte com eles”.

Outro fator é continuar fazendo viagens ao redor do mundo para mostrar e aprimorar seu talento. “Com as viagens, sempre aprendo uma coisa nova. É um estilo de vida”, conclui.