Opinião: Nova Guerra fria envolve controle de tecnologia de ponta
Na segunda metade do século XX, a competição estratégica era nuclear. Uma corrida aos armamentos atômicos para ameaçar o inimigo com uma destruição total. Só que qualquer conflito nuclear só podia acabar mal: a destruição mútua e junto com ela a do mundo inteiro.
Na segunda metade do século XX, a competição estratégica era nuclear.Foi preciso inventar regras e tratados para controlar essa loucura e se precaver contra possíveis acidentes e erros de percepção. A solução foi tentar impedir a proliferação desses arsenais mortíferos e garantir que não seriam utilizados. Só serviriam como instrumento de dissuasão: o famoso “equilíbrio do terror”. Essa estratégia no fio da navalha funcionou bastante bem.
Os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnam sem usar seus bombardeiros atômicos. A União Soviética perdeu a Guerra Fria sem apelar para um só tiro do seu imenso arsenal. Recentemente, Índia e Paquistão se enfrentaram mas deixaram suas armas atômicas no armário. Os foguetes da China e da Coréia do Norte ameaçam os Estados Unidos, mas só servem para garantir a sobrevivência de seus regimes. Hoje, as guerras são brutais e localizadas, mas ninguém pensa em usar armas atômicas. O que conta mesmo são as armas convencionais cada dia mais sofisticadas.
Hoje, o enfrentamento das grandes potências passou para o teatro estratégico das novas tecnologias da informação e comunicação. Não é só por causa dos armamentos, mas sobretudo, porque a maneira que o mundo tem de produzir, consumir e comunicar também depende agora do ciberespaço. Quem vai dominar esta nova realidade, eis a questão. Na verdade, a queda de braço entre Donald Trump e Xi Jinping tem pouco a ver com os déficits comerciais americanos, as tarifas aduaneiras ou a taxa de câmbio do yuan.
China entendeu o jogo
A nova Guerra Fria é para saber quem vai controlar as regras e o desenvolvimento das novas tecnologias de ponta, essenciais para o poder econômico e político do século XXI. A China entendeu perfeitamente o jogo: há anos ela vem roubando a alta tecnologia americana e europeia. As empresas estadunidenses e europeias que querem entrar no mercado chinês são obrigadas a partilhar suas tecnologias mais secretas com parceiros locais – o que é absolutamente proibido pela OMC.
Mas há um lado mais sombrio: utilizar a Internet para entrar no sistema de computadores das empresas e agências ocidentais para furtar avanços tecnológicos e desenhos técnicos. Na Europa e nos Estados Unidos, empresários e dirigentes políticos finalmente tomaram consciência do perigo. As negociações comerciais entre Pequim e Washington podem até se resolver com uma maior abertura comercial do mercado chinês e a redução do déficit comercial. Mas o ponto crucial – longe ainda de ser atingido – seria a proteção da propriedade intelectual e um acordo vinculante que permita reduzir seriamente o roubo de tecnologia.
Conflito de poder entre potências vão dominar o século XXI
Nesse conflito de poder entre as potências que vão dominar o século XXI, o problema mais urgente é sem dúvida a instalação da nova rede de comunicação 5G. A robotização generalizada, a internet dos objetos, e sobretudo o desenvolvimento rápido da Inteligência Artificial dependem da 5G. E Trump já fala em 6G! Quem conseguir dominar a 5G se tornará a superpotência do futuro: aquela que definirá as regras e os conteúdos da nova globalização e das novas maneiras de viver e produzir. E que poderá também manter uma imensa superioridade em termos de armamentos e ciberguerra.
Por enquanto, só duas empresas chinesas (a ZTE e a Huawei) e duas europeias (a Ericsson e a Nokia) tem condições de instalar rapidamente redes de 5G. Nenhuma empresa de telecomunicações, no mundo inteiro, tem dinheiro e know-how para isso. Trump já fala até em construir uma rede 5G com dinheiro público para evitar cair nas mãos dos chineses. E os europeus já estão estudando a maneira de financiar e desregulamentar o mercado comum para ajudar a 5G europeia sem precisar da China. A guerra de amanhã já começou.
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