Topo

Acidentes com 737-800 MAX da Boeing podem ter sido "mera coincidência", diz piloto francês

11/03/2019 08h55

Em menos de cinco meses, dois aviões 737-800 MAX, modelo da Boeing que estreou nos ares em 2016, caíram depois de decolar, levantando questões sobre a aeronave. O último acidente aconteceu neste domingo (10), com um avião da Ethiopian Airlines, deixando 157 mortos.

Em menos de cinco meses, dois aviões 737-800 MAX, modelo da Boeing que estreou nos ares em 2016, caíram depois de decolar, levantando questões sobre a aeronave. O último acidente aconteceu neste domingo (10), com um avião da Ethiopian Airlines, deixando 157 mortos.

O avião da companhia etíope deixou a capital Adis Abeba em direção a Nairobi, no Quênia, às 8h38, e caiu seis minutos depois da decolagem. De acordo com as primeiras informações, o piloto teria relatado “dificuldades” e pedido para dar meia-volta e realizar uma aterrissagem de emergência. Em outubro, uma aeronave do mesmo modelo, pertencente à companhia Lion Air, caiu na Indonésia, matando 189 pessoas.

Especialistas afirmam que, apesar dos dois acidentes terem acontecido em pouco espaço de tempo, ainda é cedo para tirar conclusões sobre possíveis falhas técnicas do fabricante. Em entrevista à RFI Brasil, o ex-piloto da Air France e consultor em aviação, Gérard Arnoux, disse que existe a hipótese de o avião ter tido problemas para manter a altitude ou de um erro de pilotagem, mas a proximidade dos dois acidentes também pode ter sido “mera coincidência.”

O Boeing 737-800 MAX foi melhorado com um dispositivo automático que impede a perda de sustentação, ou “stall”. Isso significa que existe a possibilidade de o computador de bordo ter induzido o piloto a executar a manobra errada: “picar” o avião, ou seja, empurrar o nariz da aeronave para baixo em vez de “cabrar”, ou seja, empinar o aparelho após a decolagem. Em boa parte dos modelos da Boeing essa função é manual. “Mas ainda é cedo para tirar conclusões”, resumiu Arnoux.

Segundo a Ethiopian Airlines, as duas caixas-pretas do aparelho, que contêm as gravações no cockpit e os parâmetros de voo, já foram recuperadas no local do acidente, em Bishotfu, a cerca de 60 quilômetros de Adis Abeba. Elas permitirão, em princípio, esclarecer as causas do acidente, que levou a China, a Indonésia e a própria companhia etíope a manterem sua frota de 737-800 MAX em solo.

Boeing não emitirá novas recomendações

A empresa americana informou nesta segunda-feira (11) que a investigação sobre as causas da tragédia está no início e não há necessidade, por enquanto, de emitir novas recomendações às companhias. O bimotor é a quarta geração da família 737 e voou pela primeira vez em 2016. O fabricante já recebeu mais de 5 mil encomendas de empresas aéreas do mundo todo, incluindo a brasileira Gol Linhas Aéreas.

Desde o acidente com a companhia Lion Air, o 737-800 MAX suscita inúmeras interrogações no setor aeroespacial. De acordo com uma reportagem publicada no jornal Le Figaro desta sergunda-feira (10), o fabricante teria até mesmo decidido suspender, em 2017, os testes da aeronave em razão de um problema de fabricação do motor produzido pela CFM, subsidiária da americana General Eletric e da francesa Safran.

No fim de janeiro, 350 exemplares do bimotor foram entregues a diferentes companhias aéreas, o equivalente a mais de sete anos de produção. “Este modelo é essencial para a Boeing na próxima década e representa 64% da produção total do construtor até 2032”, disse Michel Merluzeau, diretor da empresa Aerospace & Defence Market Analysis, em entrevista ao jornal francês.

Neste domingo, a Boeing colocou uma equipe à disposição da Ethiopian Airlines para investigar o acidente. A ação da empresa despencou mais de 10% em Wall Street nesta segunda-feira (11), o que é considerada a maior perda em 20 anos.