Adiamento das eleições presidenciais gera incertezas na Argélia
A imprensa francesa desta terça-feira (12) analisa a renúncia do presidente argelino de se candidatar a um 5° mandato e o adiamento das eleições na Argélia. Apesar de ser considerada uma vitória dos manifestantes que se opunham à candidatura, a decisão mergulha o país em um período de incertezas.
A imprensa francesa desta terça-feira (12) analisa a renúncia do presidente argelino de se candidatar a um 5° mandato e o adiamento das eleições na Argélia.“E agora?” pergunta a manchete do Le Parisien. O anúncio da renúncia de Abdelaziz Bouteflika a uma nova candidatura para as eleições presidenciais no país, inicialmente previstas para 18 de abril, surpreendeu na segunda-feira (11) e provocou cenas de euforia e festa na capital, Argel.
O presidente argelino, doente e debilitado, anunciou sua decisão após retornar ao país de uma viagem à Suíça para tratamento médico. Bouteflika, no poder há vinte anos, se inclina e aceita a reivindicação do povo argelino. Há três semanas, manifestações históricas nas ruas do país protestavam contra um 5° mandato.
Mas, a vitória é parcial. A decisão de adiar as eleições por tempo indeterminado prolonga, na prática, o atual mandato do presidente. “Começa agora um período de transição que o clã Bouteflika pretende controlar do início ao fim”, acredita o diário. O governo também indicou ontem que uma nova Constituição será elaborada e votada em referendo, como reivindicava a população. Um novo governo foi nomeado. “O longo caminho da Argélia rumo à democracia apenas começou”, diz o editorial do Le Parisien.
“Presidente fantasma”
“A Argélia vira a página Bouteflika”, destaca Le Figaro. O clã do presidente tentava se manter a qualquer custo no poder, mas teve que ceder "diante da evidência de que a 5ª candidatura de um chefe de Estado fantasma, que mal aparece em público, se tornou uma indecência". Com os protestos que aumentavam a cada dia, “o sistema se fissurou e o medo mudou de campo”, aponta o jornal conservador. Para não ser completamente varrido do mapa, Bouteflika “jogou a toalha”.
Le Figaro também se pergunta se os anúncios democráticos serão suficientes para superar a crise. Otimista, o editorial diz que a Argélia espera uma transição pacífica, apesar dos riscos de que o atual clã faça de tudo para permanecer no poder ou que os islamitas radicais influenciem o processo.
Guerra civil
Esta é apenas a primeira vitória da mobilização exemplar e pacífica, mas ela é uma vitória frágil, ressalta também Libération. “Se o presidente Bouteflika cumprir sua promessa e entregar o poder ao sucessor que o povo eleger, ele entrará para a história como um promotor da liberdade, como o russo Gorbatchev”, no fim da União Soviética, acredita o jornal progressista. Se fizer isso, a Argélia, o maior país do norte africano, viverá com sucesso sua Primavera Árabe.
Mas a lembrança dolorosa da guerra civil após as eleições livres de 1991, que elegeram os islamitas e provocaram uma intervenção militar no país, incita a Argélia à precaução e à sabedoria. “A única garantia de uma transição realmente democrática é que a mobilização pacífica nas ruas não pare para forçar o governo a cumprir sua promessa”, aponta Libération.
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