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Bolsonaro diz nos EUA que França é mau exemplo de abertura de fronteiras

19/03/2019 08h40

Em entrevista à Fox News nesta segunda-feira (18), em Washington, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a política de imigração e acolhimento de refugiados do governo francês. "Quem é favorável ao socialismo deve olhar para a experiência da França, que abriu suas fronteiras a todo tipo de refugiado sem seleção ou filtro; é um mau exemplo", declarou o presidente brasileiro.

Em entrevista à Fox News nesta segunda-feira (18), em Washington, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a política de imigração e acolhimento de refugiados do ...

Nuria Saldanha, especial para a RFI em Washington

Bolsonaro fez o comentário sobre a França ao responder a uma pergunta da apresentadora Shannon Bream da Fox News, canal de TV ultraconservador, sobre a política de imigração do presidente americano, Donald Trump, considerada "racista" por alguns opositores, conforme citou a jornalista. O líder brasileiro respondeu que apoiava a proposta de Trump de construção de um muro na fronteira com o México, ressaltando que "a maioria dos imigrantes não tem boas intenções". Na continuidade do raciocínio, citou o caso da França.  

Não é a primeira vez que Bolsonaro reproduz a mesma retórica de Trump de críticas à política de imigração do governo francês. Em dezembro, o embaixador francês nos Estados Unidos, Gérard Araud, ironizou um comentário feito pelo presidente recentemente eleito, na época, depois de Bolsonaro afirmar que a vida na França havia se tornado "insuportável” por causa da imigração.

O embaixador respondeu a Bolsonaro comparando os altos índices de violência entre os dois países. Em um tuíte, Araud escreveu: “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”, pontuou.

No sábado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que acompanha o pai na visita aos EUA, disse que os brasileiros que vivem ilegalmente no exterior eram uma "vergonha" para o país.

Bolsonaro tem encontro com Trump nesta terça

No último dia de sua visita oficial, Bolsonaro tem encontro marcado com Trump nesta terça na Casa Branca. Na pauta da reunião estão a relação comercial entre os dois países, acordos militares de cooperação em defesa, a influência da China na economia latino-americana e a crise na Venezuela.

Após a conversa a portas fechadas no Salão Oval, os dois líderes vão fazer um pronunciamento e responder a perguntas de jornalistas no "Rose Garden".

Na entrevista à Fox News, Bolsonaro disse que sua conversa com Trump se baseará, em grande medida, no processo de ajuda mútua. "Temos muito em comum", explicou. "Estou disposto a abrir meu coração para ele e fazer o que for em benefício tanto dos brasileiros como dos americanos", ressaltou.

Ele deve insistir sobre o desejo do Brasil de ingressar na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, (OCDE). Segundo a imprensa local, os Estados Unidos também poderão conceder ao Brasil o status de "aliado preferencial fora da Otan". Isso abriria as portas para tecnologia, cooperação e recursos de defesa.

Venezuela

Ontem, no encontro com empresários na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Bolsonaro falou sobre a possibilidade de cooperação para solucionar o impasse no país vizinho.

"Temos que resolver a questão da nossa Venezuela. A Venezuela não pode continuar da maneira como se encontra. Aquele povo tem que ser libertado e contamos com o apoio dos EUA para que esse objetivo seja alcançado", disse o presidente.

Bolsonaro afirmou que é amigo dos americanos e que deseja aprofundar parcerias com país. "O povo americano e os Estados Unidos sempre foram inspiradores em grande parte das decisões que eu tomei", observou. "O Brasil tem muito a oferecer, gostaria de fazer muitas parceiras, muito mais que assinar agora o Centro de Lançamento de Alcântara, mineralogia, agricultura, biodiversidade, gostaria de termos muita parceira desse Estado que admiro."

"Ajudem-nos a entrar na OCDE"

No mesmo encontro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou dissociar a imagem do atual governo brasileiro da extrema direita e disse que a imprensa americana mente sobre a situação no país. "O que vocês leem sobre o Brasil aqui não é verdade", provocou o ministro. "O nosso país é hoje uma aliança de valores e princípios entre conservadores e liberais [econômicos] em um regime de centro-direita”, disse. Paulo Guedes afirmou também que a nação está aberta para negócios e fez um pedido aos americanos:

“Ajudem-nos a entrar na OCDE, é inacreditável, mas os EUA são o único obstáculo à nossa entrada. Era compreensível quando nós estávamos na via da esquerda, mas agora estamos na via da direita, então não merecemos o mesmo tratamento que tínhamos antes.”

Visto para americanos

Como previamente informamos na RFI, o presidente Jair Bolsonaro formalizou em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) nesta segunda-feira a dispensa de vistos para turistas americanos entrarem no Brasil. A medida se estende também a australianos, canadenses e japoneses de forma unilateral, e vai entrar em vigor em 17 de junho.

Base de Alcântara

O acordo de salvaguardas tecnológicas para permitir o uso comercial do centro de lançamento de Alcântara foi assinado, mas o termo ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional para entrar em vigor. Pelo documento, os Estados Unidos vão poder lançar satélites e foguetes da base localizada no Maranhão. O acordo prevê também a proteção da tecnologia americana usada no lançamento de foguetes e mísseis a partir da base de Alcântara.