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Europa questiona ambições econômicas da China em setores estratégicos

22/03/2019 17h27

No dia seguinte a uma noite de discussões dedicada ao Brexit, o Conselho Europeu está agora interessado no prato principal do encontro entre os líderes do bloco: a nova relação que a Europa pretende construir com o gigante asiático.

No dia seguinte a uma noite de discussões dedicada ao Brexit, o Conselho Europeu está agora interessado no prato principal do encontro entre os líderes do bloco: a nova relação que a Europa pretende construir com o gigante asiático.

Dominique Baillard, enviado especial da RFI à Bruxelas

Os vinte e oito líderes da União Europeia desejam agora construir uma frente comum contra Pequim, com o objetivo de "sair da ingenuidade". Se a China é um parceiro amistoso, explica um membro da comitiva do Palácio do Eliseu, é também um "rival sistêmico", de acordo com o vocabulário usado pela Comissão Europeia.

“Acabamos fazendo uma estratégia do cada um por si”, considera a mesma fonte. Esta manhã, durante as discussões do Conselho, o presidente francês Emmanuel Macron lembrou a necessidade dos países europeus não agirem separadamente: tudo o que nos faz trabalhar em pequenos grupos numa correlação com grandes potências não é uma boa abordagem, segundo Macron.

O Conselho reuniu todos os países europeus que já assinaram um protocolo de acordo sobre as novas Rota da Seda com a China e, em particular, a Itália, que estendeu um verdadeiro tapete vermelho durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping. Em relação a isso, Emmanuel Macron conversou com o primeiro-ministro italiano durante uma reunião bilateral, a portas fechadas. Giuseppe Conti, no entanto, considera que o seu país respeita as diretivas europeias na relação com os chineses.

“Sobre a relação entre a União Europeia e a China, é a primeira vez que temos esse debate e um texto como este que a Comissão apresentou ao Conselho. Eu acho que esse despertar foi necessário”, anunciou mais tarde, no twitter, o presidente francês. A nova estratégia europeia contra a China, composta de novas exigências a Pequim e dispositivos concretos, será detalhada na declaração conjunta que deverá ser adotada após a reunião de cúpula.

As flutuações dos investimentos chineses na Europa

A Europa é o maior parceiro comercial da China. Desde 2010, Pequim investiu quase € 145 bilhões no Velho Continente. A China aproveitou a crise financeira para investir no bloco e comprou o porto grego de Pireu. Os chineses também estão muito presentes em Portugal, com interesses em imóveis e transporte aéreo. A Volvo, Pirelli e o grupo alemão de máquinas Kouka receberam a bandeira chinesa. Os países do leste europeu também estão sujeitos aos interesses chineses. Na França, Pequim comprou vinhedos na Borgonha e Gironde.

Mas, desde 2018, a tendência se inverteu. A Europa está preocupada com investimentos chineses em setores estratégicos, como telecomunicações ou inteligência artificial. Os vinte e oito líderes europeus decidiram controlar essas operações. Eles também querem estabelecer acesso recíproco às compras governamentais.

Como resultado, o investimento chinês caiu 40% no continente somente no ano passado, de acordo com dados do Rhodium Group. Quase metade desse capital está concentrado no Reino Unido, Alemanha e França.

Presidente chinês recebido como um rei na Itália

Segundo Anne Tréca, correspondente da RFI em Roma, o presidente chinês Xi Jinping foi recebido na Itália como um rei pelo presidente da República, Sérgio Mattarella, no pomposo Palácio do Quirinal, com escolta de cavalaria reservada para famílias reais e papas, com direito a um tour privativo no Coliseu e um jantar generoso. Os italianos não mediram esforços para prestar honras a Xi Jinping e sua esposa, e com razão: dezenas de acordos comerciais forão assinados e os profissionais já estão prevendo uma explosão do turismo asiático na península italiana.

Mas essa reaproximação - iniciada há vários anos - divide o atual governo italiano. A direita denuncia o risco da colonização da Itália pelos chineses. Esta é a diplomacia das laranjas, comenta o diário Il Foglio. "Vamos vender laranjas podres aos chineses, que assumirão nossa infraestrutura e a rede de celulares de 5ª geração", denuncia o jornal.

Alguns temem que a Itália sofra a mesma armadilha que já atingiu países africanos e asiáticos. Um investimento chinês que se torna uma expropriação quando os reembolsos são impossíveis.