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Tailândia: primeiras eleições após golpe podem fortalecer a oposição

24/03/2019 10h06

Os tailandeses foram às urnas neste domingo (24) pela primeira vez desde o golpe de estado de 2014, quando um governo militar se instalou no país. As eleições legislativas serão um teste para os generais, que contam com a permanência no poder. As últimas pesquisas de opinião realizadas pouco antes do voto, no entanto, apontavam que o partido de oposição Pheu Thai, do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, sairia na frente, com 163 assentos.

Os tailandeses foram às urnas neste domingo (24) pela primeira vez desde o golpe de estado de 2014, quando um governo militar se instalou no país.

Esse resultado seria insuficiente para formar maioria absoluta no Parlamento. O partido Palang Pracharat, aliado do Exército e do chefe de governo, general Prayuth Chan-Ocha, estaria em segundo lugar, com 96 cadeiras. Os números foram divulgados pela emissora tailandesa PBS logo após o encerramento da votação.

Há anos, a Tailândia se divide entre facções que apoiam uma família influente do país, os Shinawatra (chamados de "vermelhos"), e uma elite conservadora aliada ao Exército (os “amarelos”), que se apresenta como uma garantia da estabilidade do país e da proteção da monarquia.

O general Prayut Chan-Ocha dispõe da Constituição, aprovada em 2016, que dá aos militares o poder de nomear os 250 membros do Senado. Por isso, basta que o Phalang Pracharat, partido pró-junta, conquiste 126 cadeiras das 500 na Câmara de Representantes para conservar o controle do país.

Os outros movimentos políticos, a começar pelo Pheu Thai, teriam que conquistar 376 cadeiras para conseguir governar o país. Os "camisas vermelhas" precisariam de um grande apoio nas zonas rurais e pobres do norte e nordeste do país.

Aumento dos eleitores jovens

No total, 51 milhões eleitores estavam aptos a votar. Mais de sete milhões de novos eleitores, com idades entre 18 e 25 anos, estavam registrados e o pleito contou com novos partidos, com o Future Forward, do bilionário Thanathorn Juangroongruangkit. No sábado, o rei da Tailândia, Rama X (Maha Vajiralongkorn), que quase nunca fala em público, pediu "apoio às pessoas corretas para evitar o caos". Ele escolheu as mesmas palavras que seu pai, Bhumibol Adulyadej, adorado pelos tailandeses e falecido em 2016, usou em 1969.

A mensagem de Rama X, que tem grande influência no país, foi divulgada diversas vezes na televisão antes da abertura dos centros eleitorais. O comandante das Forças Armadas, o general Apirat Kongsompong, considerou a declaração real "positiva".

Senado nas mãos do exército

As eleições representam uma disputa entre os que apoiam a junta militar e os que desejam mais democracia. As novas regras eleitorais limitam a possibilidade de que apenas um partido conquiste ampla maioria no Parlamento, o que provoca o temor de uma eventual paralisação.

Ao mesmo tempo, a aguardada forte participação deve reforçar a presença de partidos da oposição pró-democracia. A Tailândia é um dos países com maior desigualdade social do mundo.

Os partidos ligados aos "vermelhos" venceram todas as eleições desde 2011, mas agora não dispõem de suas duas figuras emblemáticas: Thaksin Shinawatra, derrubado em 2006 e no exílio, e sua irmã Yingluck, afastada do poder em 2014.

Também foi um duro golpe para o clã Shinawatra a dissolução, em fevereiro, pela Corte Constitucional, do partido Thai Raksat Chart, ligado à família.

Seus líderes foram condenados a passar 10 anos afastados da vida política depois que foram declarados culpados de atos "hostis à monarquia", quando apresentaram a irmã do rei, a princesa Ubolratana, como candidata ao cargo de primeira-ministra.