Eslováquia: advogada anticorrupção Zuzana Caputova vence eleições presidenciais
A advogada liberal Zuzana Caputova se tornará a primeira chefe de Estado da Eslováquia, segundo os resultados quase definitivos do segundo turno das eleições presidenciais, publicados na noite deste sábado (30) pelo escritório de estatísticas.
Com 99,84% das urnas apuradas, a ativista anticorrupção obtém 58,38% dos votos, e seu adversário, Maros Sefcovic, apoiado pelo governo, 41,61%.
Imediatamente depois da publicação dos primeiros resultados, Caputova chamou os eslovacos a se unirem. "Procuremos o que nos une, ponhamos a cooperação acima dos interesses pessoais", disse diante da imprensa.
"Para mim, esta eleição mostra que é possível ganhar sem atacar seus adversários, e acredito que esta tendência se confirmará nas eleições para o Parlamento Europeu e nas legislativas eslovacas do ano que vem", declarou a futura presidente da Eslováquia.
Vitória sem agressões
Caputova considerou que seu resultado mostra "que é possível não ceder ao populismo" e "ganhar a confiança das pessoas sem recorrer a um vocabulário agressivo e aos ataques pessoais".
"Acabo de ligar para Caputova para parabenizá-la por sua vitória. Envio-lhe flores porque a primeira mulher presidente da Eslováquia merece um buquê", declarou Sefcovic à imprensa.
Para o atual presidente eslovaco, Andrej Kiska, "muitos países provavelmente nos invejam por termos elegido um presidente que simboliza valores como a decência. A Eslováquia está em crise moral e necessita um presidente como Zuzana Caputova", acrescentou.
O primeiro-ministro, Peter Pellegrini, disse esperar "uma cooperação construtiva" com a nova chefe de Estado.
Indignação contra morte de jornalista
Segundo os especialistas, sua eleição é resultado do descontentamento popular com o poder após o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak e sua companheira no ano passado.
Kuciak e Martina Kusnirova foram assassinados em casa, em fevereiro de 2018. O jornalista deveria publicar um relatório sobre as relações entre políticos eslovacos e a máfia italiana, e também sobre fraudes nos fundos agrícolas europeus.
Advogada especializada em meio ambiente, sem experiência política, Caputova, de 45 anos, participou das manifestações gigantes contra o assassinato de Kuciak, protestos sem precedentes no país desde a queda do comunismo, no início dos anos 1990.
A onda de indignação pôs em uma situação difícil o governo do partido Smer-SD e provocou a demissão do primeiro-ministro Robert Fico, estreito aliado de seu sucessor no cargo, Peter Pellegrini.
O presidente eslovaco tem funções protocolares; não governa mas ratifica os tratados internacionais e nomeia os mais altos magistrados. Também é comandante-chefe das Forças Armadas e tem direito de veto.
Comparada a Macron
Analistas comparam Caputova ao presidente francês Emmanuel Macron, outro "outsider" que chegou ao poder em 2017 com um programa reformista.
"Uma história semelhante ocorreu na última eleição presidencial na França, onde o representante de uma nova tendência política e de um novo movimento político triunfou", apontou à AFP a analista Aneta Vilagi.
As promessas da candidata liberal, divorciada e mãe de dois filhos, incluem a proteção do meio ambiente, apoio aos idosos e justiça para todos.
"Eu pretendo implementar mudanças sistemáticas que impedirão que os promotores e a polícia tenham qualquer influência política", disse Caputova à AFP.
Voto de rejeição ao governo
Muito eleitores que votaram em Caputova explicaram à AFP que sua decisão se baseava em uma rejeição a apoiar o candidato respaldado pelo partido no poder.
Para Ivan Polakovic, economista de 44 anos, Caputova era "a única opção possível", enquanto Slavomir Kubani, financista de 39 anos, considerou que não podia "votar em alguém apoiado pelo Smer-SD". "Já tivemos uma experiência ruim o suficiente com eles", afirmou.
"Sefcovic representa um partido que colabora com a máfia", declarou Oliver Strycek, técnico de informática.
(com informações da AFP)
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