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A "corrida pela água" preocupa a França

22/07/2019 07h34

Com uma semana que deve voltar a registrar recordes de calor, o jornal Libération desta segunda-feira (22) traz em sua capa a preocupante situação de seca que já atinge boa parte do território francês. A publicação faz um jogo de palavras usando uma expressão que normalmente é usada para falar da corrida pelo ouro já que a água será cada vez mais disputada, entre a indústria, a agricultura, e a população.

"A situação é extremamente preocupante já que todos os indicadores estão no vermelho", alertou a secretária de Estado do ministério da Transição Ecológica, Emmanuelle Wargon, na semana passada. Ao todo, no domingo (21), 73 departamentos tiveram que impor restrições no uso da água, sendo que 26 regiões entraram em "situação de crise".

Para o editorialista do jornal Libération, Christophe Israel, com a chegada de mais uma onda de calor - a segunda deste verão que já é um dos mais quentes das últimas décadas - crescem os conflitos clássicos do uso da água entre a agricultura, cidades, produção de energia, indústrias e turismo.

Jérôme Lecou, da Météo France (serviço nacional de meteorologia) , no entanto, minimiza o problema. "As secas sazonais são regulares e têm intensidade flutuante", explica. "A situação já foi muito pior, como em 1976, 2003 ou 2015", lembra o meteorologista.

Para Lecou, o que é inédito, é ver como a seca está chegando a lugares do norte da França. "Em Paris, não houve chuva entre o dia 21 de junho e 17 de julho, algo nunca visto. Vale lembrar que estamos somente na primeira parte do verão, ou seja, as notícias não são boas", ressalta.

Aquecimento global

Para o meteorologista, é possível enxergar sinais do aquecimento global. "A falta de chuva não é, em si, um sinal do aquecimento mundial. Mas a chegada de ondas repetidas de calor, com um espaçamento cada vez menor entre elas, mostra sim um sinal sintomático do aquecimento climático", alerta Lecou. No futuro, os períodos de seca devem se tornar mais frequentes e mais longos, principalmente nas regiões do Mediterrâneo.

O jornalista Christophe Israel lembra que, com a seca, outro problema aparece: a dificuldade da água das chuvas em penetrar o solo seco e duro. "As chuvas são muitas vezes violentas demais para que o solo seco consiga absorver toda água, afetando assim as plantações e os lençóis freáticos.

Existem na França cerca de 1.600 sondas colocadas em perfurações pelo Escritório de buscas geológicas e mineiras (EBGM) para analisar em tempo real o nível dos diferentes lençóis freáticos. "Soamos o sinal de alarme toda vez que o nível de um lençol freático, que alimenta um rio, baixa de forma abrupta", afirma Laurence Gourcy, hidro geóloga do EBGM.

"É preciso ter clareza. o desafio é tanto climático, quanto político", lembra o editorialista do Libération. "Regras de gestão existem para preservar os recursos naturais, bens comuns da humanidade. Os Estados, junto com atores da sociedade, vigiam para que essas regras sejam respeitadas. Mas é também um trabalho de cada um, individualmente ou coletivamente, de colocar em prática soluções baratas e de bom senso, como diminuir o uso da água ou resolver vazamentos. É preciso agir agora para que, um dia, nossos canos não passem a ter somente o barulho de ar", conclui Christophe Israel.