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Migrantes do Open Arms "querem se jogar na água", de acordo com capitão do navio humanitário

16/08/2019 15h53

O comandante do navio da ONG espanhola Proactiva Open Arms, ancorado a alguns metros do porto de Lampedusa, na Itália, descreveu nesta sexta-feira (16) a situação na embarcação como "explosiva". Após a evacuação de cerca de dez pessoas por razões médicas, na noite de quinta-feira (15), 134 migrantes continuam a bordo, depois de terem sido resgatados há duas semanas.

"Todos estão destruídos psicologicamente, essa situação se tornou insuportável", disse o comandante do barco, Marc Reig, ao canal de televisão espanhol TVE. "A cada segundo que passa, sabemos que a crise se aproxima. Alguém precisa 'cortar o fio vermelho' antes que a bomba exploda."

Reig ressaltou que era "inumano" deixar pessoas em um barco quando elas poderiam chegar à terra firme nadando. "Eles querem se jogar na água", declarou, reforçando a tese de ameaças suicidas relatadas pela ONG em um tuite.

"Não vou ceder", preveniu o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, estimando que a ONG espanhola "ria na cara do mundo mais uma vez". Ele também fez comentários sobre o estado de saúde dos migrantes, dizendo que estavam todos bem, com exceção de um caso de "otite".

Seis países aceitaram receber migrantes

Seis países da União Europeia (UE) se mostraram dispostos, na quinta-feira, a receber parte dos 147 migrantes do barco humanitário. "França, Alemanha, Romênia, Portugal, Espanha e Luxemburgo acabam de informar que estão dispostos a receber migrantes", escreveu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em uma carta aberta dirigida ao ministro italiano do Interior, Matteo Salvini.

"Mais uma vez, meus colegas europeus estendem a mão", agradeceu Conte, ao mesmo tempo que criticou a postura de Salvini contrária aos migrantes. O poder de Matteo Salvini, líder do partido Liga (extrema-direita) e atualmente vice-premiê, passa por momentos de fragilidade desde que ele decidiu, na semana passada, acabar a aliança governamental, formada há apenas 14 meses entre seu partido e o Movimento Cinco Estrelas (M5S, antissistema). O caso da Open Arms evidenciou essas dificuldades de governo.

Impasse sobre imigração

O ministro do Interior, que exige um rodízio europeu de portos de desembarque, assinou no início do mês um decreto que proíbe a entrada de barcos humanitários em águas territoriais italianas sem autorização. Na quarta-feira (14), um tribunal administrativo suspendeu a aplicação do primeiro decreto, contra o qual a própria "Open Arms" havia apresentado um recurso.

Salvini assinou então um novo decreto para impedir a entrada do barco, mas este deveria ser validado pela ministra da Defensa, Elisabetta Trenta.

Integrante do M5S, Trenta se negou a referendar a decisão de Salvini: "Decidi não assinar o novo decreto do ministro do Interior destinado a impedir a entrada, trânsito e parada nas águas territoriais do barco da ONG Open Arms", explicou. "Tomei a decisão com base em sólidas razões legais, escutando minha consciência. Não devemos esquecer que, por trás das polêmicas dos últimos dias, existem crianças e jovens que sofreram violência e abusos de todo tipo. A política não deve perder nunca de vista a humanidade", detalhou a ministra, em um comunicado.

Frente contra Salvini

Na quarta-feira, ela enviou dois barcos para escoltar o "Open Arms", com a intenção de retirar os 32 menores de idade que estavam a bordo. "Humanidade não significa ajudar os traficantes e as ONGs", rebateu Salvini nas redes sociais. "É graças a este suposto conceito de 'humanidade' que, nos anos de governo [do Partido] Democrático, a Itália se tornou o campo de refugiados da Europa".

Salvini, que tem atualmente 36-38% das intenções de voto, baseia sua popularidade na linha dura contra a imigração ilegal. Nos últimos dias, parece ter sido formada uma inesperada frente política de oposição à Liga, entre o M5S e o Partido Democrático (centro-esquerda).