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Escritores independentes divulgam obras alternativas brasileiras na Feira de Frankfurt

20/10/2019 14h38

Uma dezena de escritores brasileiros participou este ano da Feira do Livro de Frankfurt, que termina neste domingo (20) após cinco dias intensos de palestras e encontros. A maioria foi convidada pelo estande brasileiro, patrocinado pela Brazilian Publishers, mas alguns autores independentes financiaram a participação com o dinheiro do próprio bolso para dar visibilidade a suas obras alternativas no maior evento literário do mundo.

O jovem escritor paulista Alexandre Ribeiro ganhou uma bolsa de trabalho social voluntário do governo alemão e mora atualmente no norte da Alemanha. Ele é um escritor da periferia. É autor do livro independente "Redentor", publicado pela editora Miudeza que ele mesmo criou.

Alexandre Ribeiro aproveitou a oportunidade de estar morando no pais para divulgar seu trabalho na Feira de Frankfurt. Pagou do próprio bolso os € 400 cobrados pelo evento dos editores independentes e teve o direito de participar de cinco eventos da programação oficial.

Ao lado do amigo e escritor Fred Di Giacomo, falou, entre outras coisas, sobre "a arte fora do centro" e "a arte na era Bolsonaro: descolonizando a literatura brasileira".

À RFI o escritor diz que "nunca foi fácil fazer arte no Brasil sendo pobre, morador de favela e negro. Atualmente, nosso papel é ser contra a corrente, contra os privilégios estabelecidos, e, ao mesmo tempo, conscientizar o meu povo a tentar encontrar poesia da nossa sofrência". Alexandre Ribeiro vendeu vários livros na Feira, inclusive da edição em inglês que publicou especialmente para o evento, e espera conseguir uma tradução de "Redentor" para o alemão.

"Desamparo"

O escritor e jornalista freelancer, que também mora atualmente na Alemanha, também desembolsou € 400 para participar do evento. Ele veio divulgar seu primeiro livro de ficção, "Desamparo", publicado pela Reformatório. O romance que fala sobre a história de Penápolis, sua cidade natal no interior paulista, é um dos finalistas do importante Prêmio São Paulo de Literatura deste ano.

Ao comentar a descentralização que começa no mercado editorial brasileiro, Di Giacomo afirma que ela é "pífia e feita principalmente pelas editoras independentes, como a Reformatório, a Patuá". Antes de "Desamparo", já publicou livros de não-ficção e infanto-juvenis, e só agora "consegui abrir uma brecha para publicar meu primeiro romance, e isso porque eu sou branco", ironiza.

Na sua opinião, a literatura brasileira atual "é uma das melhores dos últimos 50 anos, a cara do Brasil, do interior, feita por uma nova geração".

Blogueira, mulher e negra

A blogueira Waleska Barbosa veio a Frankfurt convidada pela Fundação Palmares, numa parceria de um projeto cultural do governo do Distrito Federal e da CBL, a Câmara Brasileira do Livro que patrocina o estande do Brasil na Feira alemã.

Ela conseguiu publicar seu primeiro livro, "Que o nosso olhar não se acostume às ausências" em apenas duas semanas, poucos dias antes de vir à Alemanha. O livro reúne algumas crônicas de seu blog www.umpordiawb.com.br e foi financiado por uma campanha de pré-venda lançada na internet. "Fiz o apelo e consegui em uma semana R$ 5 mil para a impressão de 200 exemplares", conta à RFI.

Waleska Barbosa se transformou com a escrita: "ao começar o blog, percebi que uma transformação muito grande tinha acontecido em mim, de autoconhecimento, de falar, verbalizar algumas questões. Este processo me fortaleceu, fortaleceu minha identidade, meu lugar de me colocar no mundo como uma mulher, e como uma mulher negra. Hoje, eu não falo só por mim".

A edição 2019 da Feira do Livro de Frankfurt aconteceu de 15 a 20 de outubro e homenageou a literatura da Noruega. O Brasil marcou presença. Além dos autores citados, o estande brasileiro contou com a participação de 32 editoras. Em 2020, o Canada será o país convidado do evento literário alemão.