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Reforma da Previdência: sindicatos e governos da França travam braço de ferro

05/12/2019 07h16

A greve contra a reforma da Previdência que bloqueia a França nesta quinta-feira (5), está na capa da edição digital dos principais jornais franceses. As versões em papel não foram impressas e nem chegaram às bancas devido à paralisação dos trabalhadores de gráficas e serviços de distribuição.

As manchetes destacam os desafios do governo, diante da indignação nacional e da inflexibilidade dos sindicatos. Para o jornal Le Parisien, hoje é o "Dia D", com "mais de 250 manifestações em toda a França, entre elas uma marcha em Paris que pode terminar em violência, três e metrôs parados, escolas fechadas, uma parte dos aviões sem decolar". O diário também destaca que o movimento pode durar, já que os grevistas da rede de transporte público de Paris estão dispostos a paralisar ao menos até o Natal. "Havia tempo que não víamos algo parecido", sublinha.

"A greve à potência máxima" estampa o jornal Libération em sua capa, exibindo, em página inteira, uma foto do presidente da Confederação Geral do Trabalho, Philippe Martinez, encarando o presidente francês, Emmanuel Macron. Para o diário progressista, enquanto "os sindicatos atacam, o executivo espera".

Libération destaca que as estratégias, nos dois lados do fronte, tem similaridades. O governo deixou a revolta se instalar, fez vistas grossas e agora se mostra aberto a concessões. Os líderes sindicais também deixam a revolta se instalar, mas demonstram seu poder com a adesão à greve e esperam contar com a opinião pública para que o governo recue. "Essa queda de braço será decisiva para os próximos anos do governo Macron", avalia Libé.

Mesmo tom do lado do jornal conservador Le Figaro. "Prova de força" é a manchete de capa, que mostra uma das estações do metrô de Paris vazia. Nesta quinta-feira, 11 das 16 linhas não funcionarão. O diário destaca que os sindicatos dos trabalhadores ferroviários são os que mais investem na mobilização e prometem paralisar o país: além do metrô parisiense, 90% dos trens de alta velocidade e 80% dos trens regionais não circularão.

A categoria é a principal a expressar sua revolta contra a reforma da Previdência, que pretende extinguir os 42 regimes especiais que existem entre os trabalhadores do setor ferroviário. O atual sistema lhes confere mais vantagens em relação a outros trabalhadores, como, por exemplo, a possibilidade de se aposentar até dez anos mais cedo devido a condições mais difíceis de trabalho. 

Novela já dura 30 anos

"A longa novela da reforma da Previdência" é a manchete do jornal La Croix, que destaca que há 30 anos os governos tentam renovar o sistema de aposentadorias, sempre enfrentando a revolta dos trabalhadores. Em editorial, o diário lembra que, com excessão de 1995 - quando o então primeiro-ministro Alain Juppé se viu obrigado a abandonar seu projeto de reforma diante da pressão popular - a França vem modificando o sistema de aposentadorias a longo dos anos.

"Precisamos de uma reforma", defende o editorialista. Ele argumenta que a evolução do sistema produtivo tende a reduzir a quantidade de contribuintes e o aumento da expectativa de vida pesa nas pensões. Para La Croix, não há outra solução além da reforma. "Os opositores mostram sua força hoje. Esperamos que isso sirva para começar uma discussão séria amanhã", conclui.