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Instituto de Estudos Latino-americanos em Paris se une à greve e cancela primeira semana de aula

17/01/2020 18h00

A volta às aulas estava programada para a última segunda (13), mas os professores não deram aulas. Em uma assembleia com os estudantes e a administração, todos tomaram a decisão que o Instituto de Estudos Avançados da América Latina (IHEAL, em francês) se uniria aos grevistas em Paris contra a reforma da Previdência e reforma universitária propostas pelo governo francês. Para contornar a falta de classes, professores e estudantes organizaram conferências gratuitas e abertas ao público. 

Por Caroline Amaral Coutinho, especial para a RFI

Juntando-se aos médicos e às bailarinas, os professores da IHEAL se expressaram contra os projetos do governo, considerados "uma continuação da destruição do sistema de proteção social, do serviço público e do Estado social que defendemos como garantia de uma sociedade integrada e democrática", segundo o comunicado oficial. 

Muitos professores já eram a favor das greves, mas estavam inseguros de se manifestarem sobre um protesto universitário até o dia da assembleia. No final das discussões, a decisão foi adotada pelo corpo letivo, a diretoria e os estudantes. A professora de português brasileira Alice Fernandes, por exemplo, votou a favor da greve.

"Alguns profissionais não querem se penalizar com a greve. Ninguém quer se penalizar, eu quero dar aula, mas se eu só fizer isso nada vai mudar", afirma.
Alice trabalha nas "brechas da lei francesa", em suas palavras. A professora de 35 anos não é titular, mas sim "vacataire", o equivalente a substituta no Brasil. Isso significa que ela não recebe benefícios e seu trabalho não contribui para sua aposentadoria, mesmo que ela trabalhe tanto quanto um professor contratado.

Universidade popular

Para não fechar as portas da universidade, os alunos e professores organizaram ateliês e conferências durante a semana sobre o tema de protestos sociais na França e na América Latina. Além disso, essa "universidade popular" também buscou mobilizar os estudantes para se unirem à greve, marcando pontos de encontro nas principais manifestações da semana.

"A ideia da greve não é de não trabalhar", afirma Léa Lebeaupin, doutoranda da universidade e representante estudantil. "A universidade popular foi criada depois de vários debates, foi uma forma de dizer que os professores estão impactados com a reforma, mas não queriam fechar a Universidade."

Segundo Léa, a reação dos estudantes foi diversa, mas a maioria entendeu a situação dos professores, já que também afeta a qualidade do ensino que eles receberam.

"O contexto social permite uma troca de conhecimento", afirma. "Muitos estudantes questionaram o porquê da greve para os professores, por isso foi importante informar como isso afeta não só os professores, mas os alunos".

Em 2018, o IHEAL protestou o aumentou da anuidade da universidade para estudantes estrangeiros provenientes de fora da União Europeia. "Vamos ser um instituto de estudos latino-americanos sem estudantes latinos?", questionou Alice fazendo uma retrospectiva.

Na lei da Previdência atual calcula a aposentadoria dos professores baseado nos últimos seis meses de carreira do profissional. A reforma mudaria este para um sistema de pontos acumulados durante toda a carreira do indivíduo, o que faria os professores perderem 25% a 30% do valor das pensões, segundo simulações. 

Outras instituições

O IHEAL não é a única instituição acadêmica em clima de greve no país. Por exemplo, nesta mesma semana, a Faculdade de Direito e Ciências Políticas da universidade de Lille também não tiveram aulas, mas organizaram um "atelier de grevistas", onde os estudantes poderiam conversar com professores e alunos sobre suas reinvindicações. Já nesta terça-feira (16), os professores da faculdade de ciências e tecnologias de Nancy chegaram a bloquear um exame aos estudantes.

A assembleia desta semana definiu a greve como "renovável" e não "indefinida", como é caracterizada a greve dos transportes. O próximo voto será na segunda-feira (20) para definir se continuam com o protesto.