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Coronavírus : correspondente da RFI na China conta como é ficar em quarentena após visitar Wuhan

28/01/2020 14h56

Desde que a epidemia de coronavírus se intensificou, além de isolarem do resto do mundo a província de Hubei, epicentro do contágio, as autoridades têm colocado em quarentena todos os que passaram pela região nos últimos dias. A imprensa que está cobrindo o assunto no local também é obrigada a respeitar essas medidas. Esse é o caso do correspondente da RFI na China, Stéphane Lagarde, que esteve em Wuhan e, desde que voltou para Pequim, está confinado em seu apartamento.

O jornalista é obrigado a ficar em casa durante 14 dias, tempo estimado da incubação do coronavírus. "Agentes que administram meu prédio bateram em todas as portas na semana passada para saber quem tinha passado por Wuhan ou arredores. Em seguida, anotaram nossos números de documentos e disseram para ficarmos em casa", conta Lagarde. "Como não há vacina ou teste para medir uma eventual contaminação antes da aparição dos primeiros sintomas, essa medida ajuda a evitar novas contaminações", continua.

Desde então, o jornalista adotou um protocolo de vigilância indicado pelos médicos, medindo sua temperatura várias vezes ao dia. "No começo, eu colocava um termômetro sob cada braço", relata, quase em tom de piada. "E se esquecer, as autoridades estão aqui para nos lembrar. Uma pessoa da administração do prédio me envia mensagens via WeChat [o equivalente ao Whatsapp chinês] pela manhã, na hora do almoço e à noite. Eles perguntam se estou com febre, se estou tossindo ou se encontro dificuldades para respirar", explica Lagarde. Em caso de estado febril, funcionários dos serviços de saúde são mobilizados e levam o morador imediatamente para um hospital.

Moradores tentaram escapar do confinamento

Mas nem todos levaram as medidas de segurança ao pé da letra. Alguns vizinhos do jornalista, que também estavam confinados, tentaram sair de casa discretamente. Mas rapidamente foram impedidos por agentes de segurança, vestidos com macacões brancos de proteção, que os levaram de volta para casa. "Pelo menos esse tipo de episódio cria algum tipo de animação por aqui, pois nesse momento, quando olho pela janela, não acontece quase nada na rua", brinca. "Os vizinhos, tanto chineses como expatriados, aproveitaram que as escolas estão fechadas para prolongar suas férias. A maior parte do comércio também não está funcionando".

Lagarde diz que já estocou comida em casa e tenta não ceder à paranoia que invade as ruas, vazias desde o início da epidemia. "Correr risco faz parte da profissão e estamos aqui para testemunhar o que está acontecendo", insiste. Apesar disso, ele explica que não quer colocar em risco sua família, que vive em Pequim e, diante da situação, preferiu enviá-los para outro país temporariamente.