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Para imprensa francesa, plano de Trump e Netanyahu para o Oriente Médio só tem objetivo eleitoral

29/01/2020 10h59

O plano de paz da administração Trump para o Oriente Médio foi recebido com críticas pela imprensa francesa nesta quarta-feira (29). A proposta faz muitas concessões ao Estado hebraico e foi veementemente rejeitada pelas autoridades palestinas.

Além da polêmica proposta de Jerusalém como capital indivisível de Israel, o plano divulgado na terça-feira (28), na Casa Branca, inclui a anexação das colônias israelenses instaladas na Cisjordânia ocupada, em particular no Vale do Jordão, o que viola o direito internacional, segundo a ONU.

O jornal Le Figaro recorda uma declaração do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, assassinado em 1995 por um colono judeu contrário à paz com os palestinos : "O tango se dança a dois", dizia Rabin.

O projeto de Trump responde mais às demandas israelenses do que qualquer mediação diplomática feita no passado, "uma paz unilateral", escreve o Le Figaro. O diário conservador aponta a clara intenção do republicano de agradar aos evangélicos, a dez meses da eleição presidencial nos Estados Unidos.

"Trump não apenas impõe uma mudança radical na posição tradicional dos Estados Unidos, mas também muda os parâmetros de paz para o futuro. Ele adota a política do fato consumado em relação a Jerusalém e aos assentamentos na Cisjordânia, o que pode ofender muitas pessoas a curto prazo. Mas não está excluído que o cinismo prevaleça sobre o cansaço", lamenta Le Figaro.

Vários editorialistas franceses apontam as segundas intenções eleitorais do plano, condenado ao fracasso por sua parcialidade. "Acalentar a superioridade de Israel deixa uma ferida aberta no coração dos palestinos que impede a esperança de uma paz duradoura", escreve o jornal Sud-Ouest France.

Palestinos perderiam 30% de seu território

O jornal católico La Croix destaca a importância estratégica do Vale do Jordão, adjacente à Jordânia. A área representa cerca de 30% da Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967. Cerca de 10.000 colonos israelenses e 65.000 palestinos vivem atualmente no local, segundo dados do governo israelense e de várias ONGs. Netanyahu quer ter a mesma soberania sobre as colinas de Golã, os assentamentos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, enquanto os refugiados palestinos perdem seu direito de retorno.

O diário conclui sua análise citando uma declaração do primeiro-ministro palestino. "Este não é um plano de paz para o Oriente Médio, é um plano para proteger Trump do impeachment e Netanyahu da prisão", disse Mohammed Shtayyeh, referindo-se às acusações de corrupção que pesam sobre o premiê israelense e ao julgamento de Trump no Senado.