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Jornalista chinês que cobria crise do coronavírus em Wuhan está desaparecido

12/02/2020 13h41

Ele chegou a Wuhan, epicentro das contaminações do coronavírus Covid-19, no final de janeiro. Com um smartphone e um cabo de selfie, o jornalista independente e advogado Chen Qiushi percorria a cidade incansavelmente, produzindo vídeos sobre a catástrofe sanitária na China. Mas, desde 6 de fevereiro, ele deixou de contatar a família, que busca, desesperada, por notícias.

Em um de seus últimos vídeos publicados no WeChat, principal rede social da China, Chen Qiushi conversa com a câmera com uma expressão abatida. "Tenho medo. Diante de mim, há o vírus. Atrás de mim, o governo da China", diz. O jornalista independente de 34 anos registrou e divulgou a situação alarmante em hospitais, funerárias, supermercados, conversou com as famílias das vítimas e voluntários.

Chen Qiushi mostrou aos chineses a catástrofe sanitária que o governo chinês tentou minimizar desde dezembro, quando os primeiros casos do coronavírus Covid-19 foram registrados. "Faltam máscaras, roupas para a proteção, material médico e sobretudo - o mais importante - faltam kits de diagnóstico. Sem isso é impossível verificar que você está doente. A única coisa que você pode fazer é se colocar em quarentena por conta própria", afirma em outro vídeo.

Desde 6 de fevereiro, o jornalista desapareceu. Familiares que têm acesso a sua conta no Twitter publicaram um vídeo em que a mãe de Chen Qiushi faz um apelo por ajuda. "Essa noite Qiushi disse que iria ao Hospital Fang Cang. Mas desde das 19h/20h não consegui mais contatá-lo. Estou aqui para implorar que vocês me ajudem a encontrar Qiushi", afirma.

Horas depois, a mãe do jornalista foi informada pela polícia que ele havia sido colocado em quarentena. No entanto, para outros blogueiros e amigos de Chen Qiushi, há grandes possibilidades de que ele tenha sido preso por divulgar informações não autorizadas pelo governo chinês.

Jornalistas estrangeiros ameaçados

Como Chen Qiushi, vários jornalistas estrangeiros que trabalham na cobertura da crise do coronavírus Covid-19 em Wuhan foram ameaçados de serem colocados em quarentena. Eles dizem que as autoridades locais lhes ofereciam duas opções: o isolamento em um hospital chinês ou a volta a Pequim ou Xangai de avião.

O próprio Chen Qiushi afirma em um de seus vídeos que sua família estava recebendo ameaças por parte da polícia chinesa. Logo que começou a publicar suas reportagens de Wuhan no WeChat, sua conta foi suspensa. Mais tarde, a censura também passou a bloquear os perfis de quem compartilhasse seus vídeos ou simplesmente mencionasse o nome do jornalista.

Revolta após a morte de médico

A censura foi reforçada nas redes sociais da China após a morte do médico Li Wenliang, o primeiro a alertar sobre a gravidade do coronavírus Covid-19. Segundo informações oficiais, ele morreu após ter contraído a doença de um paciente. O oftalmologista chegou a ser preso pela polícia que o acusou de propagar boatos sobre a epidemia junto com outras setes pessoas.

A morte de Li Wenliang gerou uma forte revolta no país. Na rede social Weibo, milhões de chineses exigiram liberdade de expressão. "Queremos o pedido de desculpas da parte do governo e da polícia de Wuhan", afirmavam publicações que foram pouco a pouco sendo apagadas pela censura.

Uma petição foi aberta por um grupo de universitários chineses pedindo explicações urgentes sobre o desaparecimento de Chen Qiushi. Centenas de pessoas já assinaram o documento. "Não queremos um novo caso como o de Li Wenliang", escreveu um dos signatários.

Mais de 1.100 mortes

Autoridades sanitárias da China anunciaram nesta quarta-feira (12) que o coronavírus - que passou a ser chamado de Covid19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - fez 97 novas vítimas em apenas 24 horas. O número de mortes no país já chega a 1.113.

A Comissão Nacional de Saúde da China também anunciou 2015 novos casos de contaminação. Até agora, 44.653 pessoas foram contaminadas pela doença no país.

Especialistas da OMS estão reunidos em Genebra, na Suíça, para discutir o que foi feito até agora para desenvolver tratamentos e vacinas contra o coronavírus Covid19. A organização ativou uma rede de 15 laboratórios de referência e identificou 168 outros no mundo inteiro que têm a tecnologia necessária para fazer a detecção da doença.

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