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Em meio à epidemia de coronavírus, conservadores vencem eleições legislativas no Irã

23/02/2020 16h10

Conservadores e ultraconservadores reivindicaram neste domingo (23) a vitória nas eleições legislativas no Irã. A votação foi marcada por uma forte abstenção e pela epidemia de coronavírus.  

O ministério do Interior iraniano publicou na tarde de domingo os resultados de mais de 95% dos distritos eleitorais, dando os nomes dos deputados eleitos no primeiro turno, sem precisar a afiliação política.

Os números indicam, como previsto, a vitória do campo conservador. A participação nas eleições chegou a 42,57%, segundo anunciou o ministro do Interior, Abdolréza Rahmani Fazli, o nível mais baixo registrado em legislativas desde a revolução islâmica de 1979.   

A forte abstenção era prevista, após a desqualificação massiva pelo órgão de controle das eleições de candidatos reformadores e moderados, reduzindo a votação a uma competição entre conservadores e ultraconservadores.  

O Parlamento, unicameral, conta com 290 deputados. Segundo o site do jornal governamental Irã, 17 deputadas foram eleitas, o mesmo número do parlamento anterior, e uma outra mulher se qualificou para o segundo turno.

Segundo a agência Fars, 11 distritos eleitorais terão segundo turno, previsto para 17 de abril.

Candidatos antiamericanos

"Vitória de candidatos antiamericanos, novo tapa na cara de Trump" era a manchete do jornal ultraconservador Keyhan deste domingo. Segundo a publicação, "o povo desqualificou os reformistas".

O presidente Rohani vem sendo criticado pelo campo conservador por sua política de abertura simbolizada pelo acordo internacional sobre o nuclear iraniano concluído em Viena em 2015.

A decisão do presidente americano Donald Trump de denunciar o pacto e de voltar a impor sanções a Teerã mergulhou o Irã em uma violenta recessão econômica.    

Coronavírus

As eleições foram realizadas logo após o anúncio do primeiro caso de coronavírus no Irã. Segundo dados oficiais, a epidemia de Covid-19 fez oito mortos em um total de 43 pessoas contaminadas.

"Nós realizamos estas eleições em meio a diversos incidentes no país", comentou o ministro Rahmani Fazli. Segundo ele, nessas condições "a taxa de participação é perfeitamente aceitável". "Tivemos o mal tempo, a doença do coronavírus, a queda do avião e também os incidentes de janeiro e novembro", justificou fazendo referência ao avião ucraniano abatido pelas forças aéreas iranianas no começo de janeiro, próximo a Teerã, e à onda de contestação causada pelo aumento do preço do combustível.

 Em seu site oficial, o guia supremo iraniano elogiou o que considerou de "participação massiva da população às eleições", acusando a imprensa estrangeira de ter feito tudo para desencorajar as pessoas a participarem. Em seu curso semanal a estudantes de teologia de Teerã, o aiatolá Ali Khamenei disse que "a propaganda começou há alguns meses e se intensificou a medida que as eleições se aproximavam, principalmente nos dois últimos dias, utilizando o pretexto dessa doença".

O Irã foi o primeiro país do Oriente Médio a declarar a morte de pacientes contaminados pelo coronav?írus. Como medida preventiva, as autoridades anunciaram o fechamento de escolas e universidades, cinemas, teatros e outros centros culturais em 14 das 31 províncias do país, incluindo a da capital.

Nas províncias do Norte e do Oeste do país, todos os eventos culturais foram interditados por uma semana.

Citado pela televisão do Estado, o ministro da Saúde Saïd Namaki anunciou que o tratamento da doença seria gratuito. Em cada cidade, ao menos um hospital será usado exclusivamente para acolher, diagnosticar e tratar casos de coronavírus, segundo o ministro.

Em Teerã, onde foram detectados 4 dos 15 novos casos anunciados no domingo, a prefeitura ordenou o fechamento das fontes de água e de quiosques que vendem comida no metrô.

"Se o número de pessoas contaminadas aumentar em Teerã, a cidade toda será colocada em quarentena", declarou à televisão iraniana Mohsen Hachémi, presidente do conselho municipal da capital. Vários cartazes pedindo às pessoas para evitarem os apertos de mão para prevenir a contaminação pelo vírus foram espalhados pela cidade.