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Confinamento: EUA debatem se lojas de armas devem ser consideradas comércio "indispensável" e continuar abertas

28/03/2020 15h57Atualizada em 31/03/2020 16h09

No momento em que os Estados Unidos batem o recorde do número de casos de Covid-19 no mundo, com mais de 100 mil pessoas infectadas, o país discute as possíveis modalidades de um confinamento geral, como vem sendo feito em países como França e Itália. Nesse locais, apenas os comércios que vendem produtos de primeira necessidade permanecem abertos. No entanto, em um país conhecido pelo "direito de se defender", muitos se questionam se as lojas de armas e munições devem continuar funcionando apesar das medidas de isolamento.

A questão da venda de revolveres, espingardas, rifles e munição durante o confinamento foi colocada em vários Estados, inclusiva na Califórnia, onde a população já está em casa e boa parte do comércio foi fechado. No entanto, o governador Gavin Newson preferiu sair pela tangente. Ele não mencionou as lojas de armas quando anunciou a lista dos estabelecimentos que poderiam funcionar durante o confinamento. Diante do tema delicado, em um país onde o lobby pró-armas tem peso nas decisões, ele preferiu deixar a decisão para os xerifes de cada condado.

Em um primeiro momento, o xerife de Los Angeles, por exemplo, havia proibido a abertura desse tipo de comércio. Mas a justiça do condado o fez voltar atrás no início da semana. E para garantir a medida, na sexta-feira (27), donos de armas, comerciantes e associações lançaram uma processo na justiça federal para impedir que as autoridades locais da Califórnia fechem as lojas de armas.

"As opiniões políticas subjetivas não são pertinentes diante dessa verdade: os vendedores de armas autorizadas são comércios essenciais para garantir um direito de se proteger, que faz parte da Constituição", declararam os defensores da medida no processo entregue no tribunal federal do estado. Pedidos do gênero também foram feitos em Nova York e Nova Jersey, regiões bastantes atingidas pelo coronavírus e onde o avanço da pandemia pode levar a um confinamento ainda mais severo nos próximos dias.

Direto de se defender

Em todos os casos, os processos alegam a violação da Constituição. A segunda emenda do carta magna, que garante aos cidadãos e direito de carregar armas, é frequentemente evocada no país, seja durante as campanhas eleitorais ou após os inúmeros tiroteios continuam deixando mortos nos Estados Unidos.

A poderosa National Rifle Association (NRA), principal associação do lobby do armamento, se exprimiu sobre a disputa na justiça da Califórnia e considerou que, mesmo se a crise sanitária é preocupante, ela não pode servir de "desculpa" para maa violação da Constituição. "Os vendedores de armas e de munições fornecessem o que pode ser visto como a função comercial mais importante [do país] ao permitirem aos californianos que defendam a si mesmos, seus próximos e suas propriedades" nesses tempos difíceis, declarou a NRA.

Nos estados do Texas, Ohia e Michigan, as autoridades consideraram as lojas de armas "essenciais".

Aumento de acidentes e suicídios

Desde o início da pandemia, as vendas de fuzis, pistolas e munições não param de crescer nos Estados Unidos. Os norte-americanos correram para as lojas especializados do país, onde um terço dos adultos já possui uma arma de fogo em casa.

Mas os que defendem o fechamento das lojas de armas alegam que existe um risco de aumento de acidentes e suicídios, principalmente por causa do confinamento de famílias inteiras em suas casas. Em 2019, quase 40 mil pessoas foram mortas por armas de fogo nos Estados Unidos. Entre elas, 24 mil se suicidaram.