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Na China, os cidadãos de Hubei são vistos como párias, apesar do declínio da epidemia

28/03/2020 06h57

Na China, à medida em que a situação da pandemia de coronavírus se estabiliza, foram levantadas as restrições em Hubei, finalmente permitindo que dezenas de milhões de cidadãos se deslocassem pelo país após dois meses de confinamento. Mas o retorno à vida normal é complicado para esses habitantes, que são discriminados por chineses de outras províncias.

Com Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim, e  Zhifan Liu, correspondente em Zhengzhou

Os confrontos ocorreram na sexta-feira ( 27) entre os residentes de Hubei e a polícia da província vizinha de Jiangxi. Os fatos ocorreram em uma ponte que liga as duas regiões e que atravessa o rio Yangtze. Em vídeos rapidamente retransmitidos on-line, vários milhares de moradores de Hubei tentaram atravessar a ponte e se depararam com polícia de choque destacada pela província de Jiangxi.

A tensão aumentou rapidamente, e a polícia da província de Hubei também teve problemas com seus colegas da província vizinha, antes que a situação voltasse ao normal durante o dia.

Mas esses confrontos mostram que os moradores de Hubei, berço da epidemia, se tornaram párias no resto do país, apesar do levantamento de seu confinamento na quarta-feira (25). Após dois meses de quarentena, os cidadãos de Hubei podem se deslocar para o resto da China novamente, desde que tenham um atestado médico.

O governo, por sua vez, diz que a situação está sob controle, mas teme uma recuperação na epidemia. Desde sexta-feira (27), o país fechou suas fronteiras para viajantes estrangeiros. E os cinemas, que foram abertos por algumas horas, foram novamente forçados a fechar as portas.

A decisão de fechar novamente as fronteiras para viajantes estrangeiros entrará em vigor neste sábado (28), a partir da meia-noite. Pequim diz que é forçada a suspender temporariamente os vistos de viajantes devido a um aumento na contaminação "importada".

Diplomatas e empresários que viajam a negócios não são afetados por esta decisão. Por outro lado, a diáspora chinesa que mudou de nacionalidade também é alvo.

O regime gostaria de poder exibir zero casos de contaminação quando a sessão parlamentar anual for realizada. Porque, também na China, o coronavírus abalou o calendário político. A reunião das duas assembleias chinesas em Pequim, que deveria ser realizada em março, foi adiada, ainda sem previsão de data.