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Testes em massa e rastreamento de celulares fazem parte da receita de sucesso do controle da Covid-19 na Coreia do Sul

30/03/2020 12h57

O governo sul-coreano anunciou nesta segunda-feira (30) apenas 78 novos casos de Covid-19. Os dados mostram que Seul continua controlando com sucesso a epidemia, desde o pico de contaminações há algumas semanas. Os bons resultados têm dois principais motivos: a realização de testes em massa e o rastreamento sistemático de cada paciente infectado por meio da geolicalização dos smartphones.

Com informações de Frédéric Ojardias, correspondente da RFI em Seul

Após a detecção e o isolamento ou a hospitalização dos contaminados, as autoridades sul-coreanas têm acesso aos dados sobre o trajeto percorrido minuto a minuto do paciente. O método, longe de ser classificado como uma "ciberditadura" pela sociedade sul-coreana, é regulado por lei e aceito pela população.

Idas a restaurantes, lojas, utilização de transportes públicos e até a hora na qual uma pessoa contaminada pelo coronavírus passou por determinados locais: todos esses dados são enviados pelos smartphones dos doentes aos residentes das áreas visitadas.

A identidade dos infectados é protegida. As informações são enviadas dos telefones dos doentes diretamente às operadoras telefônicas ou ao Centro de Gestão de Crise do governo sul-coreano. Segundo a lei, esses dados são estocados em servidores e serão destruídos no final da pandemia.

Assim, todos aqueles que passaram perto de uma pessoa infectada serão informados, poderão realizar testes imediatamente e entrar em quarentena, se necessário. Resultado: as contaminações são controladas antes que sofram um aumento vertiginoso.

É desta forma que de um total de quase 10 mil infectados, apenas 158 mortes foram registradas na Coreia do Sul. A taxa de mortalidade no país é uma das mais baixas do mundo: 1,6% contra 4,4% em média.

Também contribui com esse quadro a forte infraestrutura hospitalar do país, que conta com 12,3 leitos para cada mil pessoas, perdendo apenas para o Japão (13,3 leitos por grupo de mil pessoas) e muito adiante da França (6 leitos para cada mil pessoas) e os Estados Unidos (2,8 leitos por grupo de mil pessoas).

Principal medida: testes em massa

A Coreia do Sul chegou a ser o segundo país mais atingido pela epidemia de coronavírus, mas rapidamente encontrou uma forma eficaz de controlar o contágio: a realização de testes em massa. Enquanto alguns países, como a França e o Reino Unido, realizam o diagnósticos apenas em pacientes que necessitam de hospitalização, o governo sul-coreano resolveu submeter a exames todos os indivíduos que apresentarem sintomas do coronavírus.

O país de 51,4 milhões de habitantes tem a capacidade de testar 140 mil pessoas por semana. Desta forma, o doente é rapidamente colocado em quarentena ou hospitalizado.

Em seguida, com o acesso do governo aos dados emitidos pelos smartphones, todo o percurso feito pelo doente é analisado e as pessoas com quem o contaminado teve ou pode ter tido contato são informadas.

Desta forma, ao contrário do resto do mundo, o confinamento em massa não foi estabelecido como obrigatório pelo governo sul-coreano. Por outro lado, Seul recomenda à população o distanciamento social, a diminuição de contatos, evitar aglomerações e o autoisolamento imediato no caso de apresentação de sintomas da Covid-19. Com uma população que respeita estritamente as regras, as recomendações tiveram efeito imediato.

Assim, sem a necessidade de imposição por parte do governo, as ruas e locais públicos se esvaziaram e os eventos esportivos e culturais foram cancelados. Aqueles que saem às ruas para ir ao mercado, farmácia ou hospital utilizam máscaras, ao mesmo tempo que os transportes públicos são frequentemente desinfetados.

A estratégia sul-coreana faz tanto sucesso que a Alemanha passou a adotar o mesmo método. O país, que está realizando entre 300 e 500 diagnósticos por semana, registra até o momento 52.547 casos e uma taxa de letalidade de 0,7%, longe do drama enfrentado pela Itália, Espanha e França.