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Potência agrícola da Europa, Itália enfrenta falta de mão de obra para manter cadeia produtiva de alimentos

02/04/2020 07h52

"Existe o risco de escassez de alimentos no mercado mundial, devido a perturbações derivadas da COVID-19 no comércio internacional e nas cadeias de suprimentos" . Este foi o alarme lançado na quarta-feira (1) em conjunto pelas chefias de três agências internacionais, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Na Itália, epicentro da epidemia na Europa e também primeiro país em produção agrícola da União Europeia, as autoridades estão preocupadas com as diversas dificuldades, entre elas, a falta de mão-de-obra em diversos setores da cadeia produtiva.   

No país  ainda não faltam alimentos frescos nos mercados e feiras, mas os agricultores s enfrentam problemas para recrutar trabalhadores nas lavouras, no transporte e na distribuição.

A Itália é o primeiro país em produção agrícola da União Europeia e movimenta um mercado de quase 132 bilhões de euros para o consumo interno e exportação.

E' na Lombardia, a região mais afetada pela epidemia, que se concentra a maior produção agrícola do país. Cerca de 70% do território é destinado à agricultura, o primeiro produtor italiano de arroz, vegetais embalados, carne de porco e leite, com 500.000 vacas leiteiras.

Segundo o especialista em agricultura , Carlo Triarico, presidente da associação do produtores de alimentos orgânicos biodinâmicos, os produtos frescos em geral estão mais expostos ao risco de escassez.

Segundo ele, as pessoas agora podem sair pouco para comprar alimentos, com longas filas nos supermercados e, portanto, preferem comprar produtos em conserva, que duram vários dias. 

Em relação ao leite, por exemplo, se houvesse apenas um caso de infecção entre fazendas ou fábricas, isso significaria ter de colocar em quarentena os trabalhadores, higienizar tudo e depois parar de trabalhar. Isso para o produto fresco perecível significaria fechamento e colapso para vários agricultores.

Queda no consumo

A agricultura nos últimos anos já tem enfrentado dificuldades com as mudanças climáticas. Com o maior número de produtos típicos, a Itália também é líder mundial na produção de alimentos orgânicos e biodinâmicos . Este é o setor que mais sofre. Os trabalhadores agrícolas já são poucos e, se uma parte ficasse em casa, o sistema não aguentaria mais.

Os grandes produtores também alertam para riscos provocados pela epidemia. Segundo Ivano Vancodio, presidente da Ferderalimentare, órgão que representa e tutela a indústria dos alimentos e bebidas na Itália, o consumo diminuiu cerca de 20%. Principalmente porque os restaurantes e bares estão fechados, e o consumo familiar evita desperdício.

O risco é que a crise possa abrir as portas para crime organizado, as chamadas máfias. Mais do que nunca, os produtores pedem a presença de um Estado forte para ajudá-los a combater as dificuldades. Eles reivindicam também incentivos bancários e, principalmente, ajudas da União Europeia.

Alerta das agências internacionais

As agências internacionais FAO, OMS e OMC, lançaram um amplo alarme a nível mundial. Segundo essas entidades, as incertezas geradas sobre a disponibilidade de alimentos podem desencadear uma onda de restrições à exportação, o que, por sua vez, causaria uma "escassez no mercado global".

Nesses cenários, alguns países exportadores de grãos podem reter suas colheitas por medo de escassez, enquanto no outro extremo da cadeia alimentar globalizada, outros países mais frágeis e pobres correm o risco de padecer devido à penúria dos produtos.

Para essas três organizações multilaterais, é importante garantir o comércio , o que inclui o transporte e a distribuição.