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Empresários, artistas e produtores brasileiros recebem ajuda do governo em Berlim

06/04/2020 10h40

Com o fechamento de teatros, museus, restaurantes e casas de espetáculo, pequenos empresários, produtores e artistas brasileiros vivem dias de incerteza na Alemanha. Em Berlim, eles tentam dar a volta por cima com criatividade e uma ajuda financeira do governo de pelo menos € 5.000 (cerca de R$ 29.000).

Por Cristiane Ramalho, correspondente da RFI em Berlim

O prejuízo com a pandemia foi grande para os produtores culturais Daniela Cantagalli e Rodrigo da Matta, da Bossa FM. A dupla foi obrigada a cancelar, em cima da hora, um grande festival que reuniria, em Berlim, artistas da Europa e do Brasil - o Psicotrópicos.

"A gente tentava entender o que estava acontecendo, mas a cada dia as coisas mudavam", lembra Daniela. Até que veio a decisão do governo, em março, de proibir eventos acima de mil pessoas. "O festival deveria receber um público três vezes maior. Não havia outra saída".

Foi como frear um avião na pista de decolagem. Com posters espalhados pela cidade, ingressos vendidos e passagens de artistas compradas, foi uma decisão muito difícil. "As companhias aéreas não respondiam, tudo estava um caos. Foi muito triste", lembra a carioca.

Além do festival, os produtores cancelaram uma série de outros eventos já agendados, como a Roda de Feijoada, que emprega 35 pessoas na produção, e um novo projeto de Baile Funk.

Com dívidas, e sem fonte de receitas diante do congelamento do setor de artes e entretenimento na Alemanha, Rodrigo e Daniela recorreram à ajuda oferecida pelo governo alemão para atravessar a crise.

Na capital, que vive em grande parte do turismo e da indústria criativa, o reforço oferecido para profissionais independentes foi de € 5.000 (cerca de R$ 29.000). Requisitado pela internet, o pedido de socorro financeiro tem provocado longas filas virtuais. Mas a verba é liberada em poucos dias.

"É uma ajuda pequena, mas, para quem não sabe quando terá a próxima receita, é ótima. É muito bom saber que você consegue pagar as contas nesse momento de caos total", diz Daniela, que viu o dinheiro entrar na conta em apenas dois dias. "Praticamente todo mundo que eu conheço, e que é freelancer dessa área de cultura, se candidatou. E praticamente todo mundo vai receber."

Gal faria show em Berlim

Rodrigo teve ainda que lidar com o cancelamento do show da Gal Costa, que aconteceria no final de março em Berlim. O concerto fazia parte de uma grande turnê da cantora pela Europa, organizada com apoio da joint venture Yellow Noises, da qual o produtor também participa.

"O prejuízo foi de, pelo menos, € 30.000. O sentimento é de vulnerabilidade", diz. "E a gente trabalha com um orçamento tão apertado que fazer um seguro, nesses casos, é inviável".

Também músico e DJ, Rodrigo diz que a indústria cultural parou - e será a última a voltar: "Os eventos só serão retomados aos poucos. Esse deve ser um momento de reavaliação, que demanda muita união".

Para agradecer a solidariedade e o apoio recebidos, Rodrigo gravou um vídeo comovido que foi postado nas redes sociais. Ele tenta olhar para frente agora. E quer lançar uma plataforma on-line para antecipar as vendas para o próximo Psicotrópicos, já remarcado para março de 2021.

Pacote do governo evita falência de brasileira

Dona do restaurante A Tapiocaria, em Berlim, a pequena empresária pernambucana Mariana Pitanga também foi ajudada pelo governo federal, que lançou um pacote de € 175 bilhões para empresários, empregados e autônomos atingidos pela pandemia.

"Recebemos do governo federal o chamado 'Kurzarbeitsgeld', um dinheiro para as empresas pagarem cerca de 70% dos salários dos empregados, para evitar a demissão em massa. É uma grande ajuda, porque inclui todos os encargos sociais e planos de saúde", diz Mariana.

Além disso, ela teve direito a um reforço de € 14.000 - somando recursos do governo do estado de Berlim e da administração federal. O dinheiro vai ajudar a cobrir gastos imediatos, como aluguel e luz. "Nenhum desses valores terá que ser reembolsado", diz, com alívio, a pequena empresária.

Com o apoio, foi possível manter os sete funcionários fixos. Mas os cinco temporários, recém-contratados para a alta temporada, tiveram que ser dispensados. Sem a ajuda, diz Mariana, o restaurante, aberto há apenas oito meses, teria quebrado.

Criatividade em tempos de crise

A pequena empresária investe agora toda a sua energia no serviço de entregas em domicílio, que ainda é permitido. "Estamos trabalhando em dobro, todos os dias da semana. Além da loja virtual, estamos buscando novas estratégias. Está bem puxado, mas é assim que tem que ser".

Apesar de ter sido diretamente impactada pelas restrições, a brasileira apoia as medidas rigorosas impostas pelo governo alemão. A preocupação maior, no momento, é com o Brasil. Com médicos na família, a empresária tem ouvido relatos preocupantes sobre a situação.

"Os governos estaduais e municipais devem manter o pulso firme e seguir as medidas que a Organização Mundial de Saúde e os países da Europa estão adotando", recomenda.

Mariana torce por uma mudança de rumo no governo federal, que para ela deve "tomar consciência": "O presidente (Jair Bolsonaro) precisa parar de levar isso na brincadeira, e de achar que é uma piada. Já vimos o que aconteceu na Itália e na Espanha. É preciso manter essas medidas pelo tempo que for necessário".