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Covid-19: Wuhan reabre à circulação depois de passar dois meses e meio isolada

08/04/2020 07h59

Wuhan, epicentro da pandemia de coronavírus, reabriu à circulação nesta quarta-feira (8). As barragens que cercavam a capital da província de Hubei desde janeiro foram retiradas na véspera. Para os 11 milhões da habitantes, o momento é vivido com euforia, uma espécie de "liberação", com a esperança da volta à normalidade.

Com informações do correspondente da RFI na China, Stéphane Lagarde

À meia-noite, o som da buzina de um navio no rio Yangtsé, o maior da Ásia, acordou a cidade de Wuhan. Os moradores, que não puderam deixar o local desde 23 de janeiro, respiraram aliviados. Depois de uma homenagem aos mortos pelo coronavírus no fim de semana, um show de luzes que colore os principais prédios da capital da província de Hubei são o símbolo do retorno à vida.

Meios de comunicação chineses comemoram a suspensão da proibição de viajar, com manchetes como: "Wuhan, faz tempo que não te vemos". Segundo a televisão estatal, 55 mil pessoas deixarão a cidade nesta quarta-feira (8) - um sinal que a situação está sob controle, considerando que o retorno à normalidade levará tempo. Ao menos dez províncias e outras cidades - como Xangai, Tianjin e Pequim - continuarão a exigir que os indivíduos que chegam da província de Hubei sejam colocados sob quarentena.

Apesar da euforia, Wuhan continua sendo a cidade mais castigada pela epidemia na China: mais de 2.500 pessoas morreram na metrópole. Berço da Covid-19, a localidade também foi a primeira no mundo a impor um draconiano confinamento a seus habitantes. Logo depois as medidas foram ampliadas para a província de Hubei, isolando dezenas de milhares de pessoas em suas casas, como forma de conter a transmissão do vírus.

"Cidade de heróis"

No final da noite de terça-feira (7), milhares de pessoas correram para estações de trem e terminais de ônibus de Wuhan, depois que autoridades anunciaram o fim da proibição de deixar a cidade. Nas plataformas, agentes lembravam os passageiros sobre as medidas de higiene e a necessidade de manter um distanciamento de um metro, enquanto alto-falantes transmitiam mensagens chamando Wuhan de "cidade de heróis". No meio das pessoas, robôs circulam pulverizando desinfetante nos pés dos viajantes.

Os passageiros também são submetidos a controles de temperatura e devem mostrar um código QR em seus smartphones. Imposto pelas autoridades, o sistema permite às pessoas não contaminadas pelo coronavírus comprovar que estão saudáveis e que não moram em um bairro ainda considerado como zona de risco.

A agência estatal Xinhua afirmou que, na manhã desta quarta-feira, filas de ônibus saíam da capital de Hubei depois que as barreiras que bloqueavam as estradas foram retiradas. O aeroporto internacional de Wuhan também voltou a operar.

O momento é também de reencontro de muitas famílias e de volta para casa. Centenas de pessoas foram surpreendidas pelas medidas anunciadas pelo governo em janeiro e tiveram de permanecer em Wuhan. É o caso de Hao Mei, de 39 anos, originária de Enshi, a 450 quilômetros da capital de Hubei, onde é empregada de uma cantina escolar.

"Acordei às quatro da manhã hoje. Estou tão feliz!", afirmou, antes de entrar no trem rumo a Enshi. "No começo, eu chorava todas as noites. Fiquei muito triste porque minha filha, de apenas 10 anos, ficou sozinha", explicou.

"Wuhan perdeu muito nesta epidemia e a população pagou um preço muito alto", disse Yao, de 21 anos, que retornava a Xangai para trabalhar em um restaurante. "Agora que o confinamento foi levantado, acredito que estamos todos muito felizes."

Nova onda de contágio

Os moradores de Hubei permaneceram confinados até cerca de duas semanas atrás, quando as restrições começaram a ser retiradas gradualmente, o que permitiu a retomada das viagens para outras partes da China. Mas autoridades resolveram esperar até esta quarta-feira para autorizar a saída das pessoas bloqueadas em Wuhan, apesar do temor, no restante do país, de que elas possam ser vetores do coronavírus. Além disso, as autoridades temem uma nova onda de contágios, a partir de pessoas procedentes do exterior.

Na terça-feira (7), foi a primeira vez que a China informou que não houve mortes relacionadas à Covid-19. Enquanto isso, muitos continuam duvidando dos números divulgados pelo governo, dada a potencial virulência e a rapidez com que a doença se propagou na Europa e nos Estados Unidos, que apresentam números de mortos e contagiados muito superiores aos divulgados pelas autoridades chinesas.