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Países europeus começam uma flexibilização gradual das regras da quarentena contra a Covid-19

14/04/2020 06h32

Depois de a Espanha autorizar na segunda-feira uma retomada parcial do trabalho, outros países europeus começam a colocar em vigor uma flexibilização gradual e controlada das regras da quarentena contra o novo coronavírus - uma flexibilização que poderá no entanto ser revertida, a depender da evolução do controle da pandemia.

Claudia Wallin, correspondente da RFI em Estocolmo

A partir desta terça-feira, a Áustria reabrirá pequenas lojas e parques públicos. Na quarta-feira, creches e escolas do ensino fundamental voltarão a funcionar na Dinamarca. Líderes da Noruega, República Tcheca, Suíça, Irlanda e Itália também já anunciaram planos para uma reabertura moderada de setores da sociedade.

Na Áustria, que vem registrando declínio nas taxas de contaminação pela Covid-19, o plano do chanceler Sebastian Kurz é reabrir inicialmente parques públicos e lojas de até 400 metros quadrados, sob estritas medidas de segurança. Ao mesmo tempo, serão mantidas as rígidas regras de distanciamento social e de uso de máscaras de proteção, a fim de prevenir uma segunda onda de infecções pelo vírus.

Se o cronograma do governo puder ser levado adiante, o passo seguinte será reabrir lojas maiores a partir do dia primeiro de maio. Em meados de maio, será a vez de hotéis, restaurantes e outros serviços retomarem suas atividades, em etapas graduais - uma decisão final sobre esta fase do cronograma deverá ser tomada no final de abril.

As escolas deverão permanecer fechadas até pelo menos meados de maio, e eventos públicos estão proibidos até o fim de junho. A multa para os que violarem a determinação de usar máscaras de proteção em lojas e nos transportes públicos será de 50 euros.

Caso seja detectada uma piora nos índices de contaminação pela Covid-19, segundo o chanceler Sebastian Kurz, o governo "sempre terá a possibilidade de acionar o freio de emergência e reintroduzir medidas restritivas". Kurz citou o exemplo de Cingapura, que conseguiu inicialmente conter a disseminação do vírus mas que diante de uma segunda onda de infecções decretou uma quarentena de um mês no início de abril.

A província austríaca do Tirol - primeira região a registrar casos do novo coronavírus na Áustria, e que se tornou a mais infectada - também suspendeu a quarentena em suas comunidades, após registrar tendência nas taxas de aumento das infecções diárias de menos de 5 por cento. Mas diversas estações de esqui que foram severamente afetadas pela pandemia permanecem fechadas.

Com uma população de 8,8 milhões, a Áustria decretou quarentena no dia 15 de março, e contabiliza atualmente 13.999 casos da Covid-19, e 350 mortos.

Caso dinamarquês

Na Dinamarca, a estratégia é iniciar um processo gradual e moderado de flexibilização das regras da quarentena - caso os números da pandemia se mantenham estáveis no país. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, comparou o processo a uma caminhada na corda bamba: segundo ela, é preciso dar um passo cauteloso de cada vez.

"Se pararmos no meio do caminho, poderemos cair, e se andarmos rápido demais, tudo pode dar errado. Por isso, precisamos dar um passo cauteloso de cada vez", destacou a primeira-ministra.

"Se abrirmos o país muito rapidamente correremos o risco de sofrer um aumento agudo do número de infecções, e teremos que fechar a sociedade novamente", acrescentou ela.

O plano dinamarquês é reabrir inicialmente, a partir da quarta-feira, apenas as creches e escolas de ensino fundamental. Bares e shopping malls continuarão fechados, e encontros públicos de mais de dez pessoas permanecerão proibidos no país escandinavo, que tem uma população de 5,6 milhões de habitantes. As fronteiras dinamarquesas também continuarão fechadas pelo menos até o dia 10 de maio.

"A vida diária não voltará totalmente ao normal no momento. Viveremos com muitas restrições pelos próximos meses", destacou a primeira-ministra.

Ela sublinhou ainda que se as regras de distanciamento social não forem respeitadas e a situação se agravar, "medidas ainda mais rígidas poderão ser tomadas".

A Dinamarca foi o segundo país da Europa a decretar quarentena, no dia 11 de março - antes mesmo de registrar uma só morte por coronavírus. O primeiro país europeu a entrar em quarentena havia sido a Itália, que adotou a medida depois de já ter se tornado uma das nações mais impactadas pelo covid-19.

A rápida atitude do governo dinamarquês de fechar o país a fim de conter a disseminação do vírus parece ter ajudado a Dinamarca a sobreviver à pior fase da crise da Covid-19. As estatísticas diárias indicam uma redução de novos casos de coronavirus, que permanecem relativamente baixos em comparação com muitos países europeus.

Segundo as estatísticas, a Dinamarca registra atualmente 6.318 casos da Covid-19, e 285 mortes. Segundo a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, a decisão de adotar o isolamento horizontal teve êxito em desacelerar a disseminação do covid-19.

"Em outros países vemos soldados transportando cadáveres em caminhões, e espaços públicos convertidos em necrotérios improvisados. Há pessoas que morrem em suas camas e só são encontradas passado algum tempo. Tudo isso acontece na Europa, mas a Dinamarca não caminha nessa direção", assegurou Frederiksen.

Outros países

Na Noruega - que está em quarentena desde o último dia 13 de março -, as creches deverão ser reabertas a partir do próximo dia 20, e uma semana depois será a vez das escolas do ensino fundamental. Mas os noruegueses deverão continuar a trabalhar remotamente.

Eventos esportivos e culturais permanecerão proibidos até pelo menos 15 de junho. Estrangeiros estão proibidos de entrar no país, com exceção de cidadãos europeus que trabalham em setores considerados essenciais - como a agricultura e a indústria do petróleo.

"Juntos, conseguimos controlar a evolução da epidemia, e por isso podemos reabrir a sociedade aos poucos, de forma controlada", disse a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg.

De acordo com as estatísticas oficiais, a Noruega registra 6.547 pessoas contaminadas pela Covid-19, e 131 mortos entre a população de 5,3 milhões de habitantes.

Na República Tcheca, o governo decidiu autorizar a reabertura de algumas lojas, e também afrouxou as regras do isolamento em áreas públicas de recreação. Na Suíça, as autoridades planejam amenizar a partir do fim deste mês algumas regras do confinamento, que fechou fronteiras, escolas, bares e restaurantes. A Irlanda também planeja suspender algumas restrições e permitir a reabertura de algumas lojas nas próximas semanas.

Na Itália, que ao lado da Espanha foi o país europeu mais abalado pela pandemia da Covid-19, a expectativa do governo é poder começar a suavizar a partir do fim deste mês algumas medidas restritivas da quarentena imposta no país desde 9 de março - desde que a epidemia do novo coronavírus continue a dar sinais de desaceleração. O pico diário de novos casos na Itália foi o dia 21 de março, quando 6.557 foram registrados.

O primeiro-ministro Giuseppe Conte mencionou a reabertura de livrarias e lojas de roupas de crianças, mas tinturarias e outros serviços podem ser incluídos. Em entrevista à BBC, o primeiro-ministro Giuseppe Conte advertiu no entanto que a Itália não poderá baixar a guarda no combate à Covid-19, e que as rígidas restrições impostas para o enfrentamento da pandemia só poderão ser levantadas gradualmente. A Itália tem atualmente 159.516 casos de covid-19, e 20.465 mortes.

No última dia 8, um show de luzes marcou o fim da quarentena na cidade chinesa de Wuhan, o epicentro global da pandemia da Covid-19, após quase três meses de rigoroso confinamento. Mas a China permanece em alerta para evitar uma temida segunda onda de contaminação.