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Reino Unido prolonga quarentena; Jonhson sai fortalecido depois de ser criticado por sua gestão da epidemia

16/04/2020 14h38

O Reino Unido prolongou nesta quinta-feira (16), por "pelo menos três semanas", a quarentena instaurada desde 23 de março para tentar frear a propagação do novo coronavírus no território. O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, que substitui interinamente o premiê Boris Johnson.

A epidemia do novo coronavírus já deixou 13.729 mortos no Reino Unido. O total de casos de contágio passa de 100 mil. O primeiro-ministro ainda se recupera da Covid-19, quatro dias depois de sua saída do hospital.

A oposição trabalhista pressiona o Executivo a apresentar uma estratégia de saída do confinamento. A crise sanitária deve prococar uma retração do PIB britânico de 13% neste ano e levar 2 milhões de pessoas ao desemprego, segundo estimativas oficiais. Apesar disso, o Partido Conservador manifestou a intenção de manter as negociações para finalizar o Brexit até 31 de dezembro.

Na quarta-feira (15), o novo líder do Partido Trabalhista,. Keir Starmer, divulgou uma carta na qual expressou suas demandas.

"Apelo ao governo para apresentar uma estratégia de saída. Não estou pedindo uma data específica. Entendo perfeitamente que isso não é realista. Mas precisamos saber mais sobre os critérios, as decisões tomadas, a estrutura dessas decisões. Porque eu acho que os cidadãos precisam de transparência e esperança, eles precisam de respostas para essas perguntas e eles terão mais confiança no governo se ele estiver aberto. Os britânicos precisam 'ver uma luz no fim do túnel'", disse o líder do Partido Trabalhista.

Uma "ressurreição política"

Uma pesquisa YouGov mostrou na semana passada que 68% dos britânicos aprovam a gestão do governo diante da pandemia, 5 pontos a mais que na semana anterior. Até a internação de Johnson, o governo era criticado.

Na avaliação de Philippe Marlière, professor de ciências políticas da University College de Londres, a hospitalização de Johnson emocionou os britânicos, devido à gravidade de seu estado de saúde, e acabou gerando uma onda de simpatia pelo premiê. "Ele sai reforçado dessa experiência. Aconteceu uma forma de ressurreição política", diz o analista. "Agora, Johnson tem os meios para tomar decisões positivas, como reforçar o NHS, o sistema de saúde britânico", diz Marlière.

Preocupações com a falta de máscaras e testes ou a situação dos idosos e cuidadores em casas de repouso não atingem a popularidade do primeiro-ministro. Defensor ferrenho do Brexit, ele até cumprimentou em um vídeo, após sua hospitalização, as duas enfermeiras estrangeiras que cuidaram dele durante as 48h que passou na UTI - uma delas portuguesa e a outra neozeolandesa.

As comunidades negras, asiáticas, ou de outras minorias étnicas, compõem um terço dos pacientes mais afetados pelo coronavírus nos hospitais britânicos, de acordo com um estudo do Centro Nacional de Pesquisa e Auditoria de Cuidados Intensivos (ICNARC) britânico. E isso apesar do fato de que essas minorias representam apenas 14% da população da Inglaterra e do País de Gales.

Data do Brexit mantida

Apesar das graves consequências humanitárias e econômicas da epidemia de Covid-19, o governo britânico anunciou na quarta-feira (16) três reuniões de negociações do Brexit: nos dias 20 de abril, 11 de maio e 1° de junho. Uma escolha arriscada, na opinião de Philippe Marlière:

"Não conheço nenhum comentarista ou especialista na área médica ou política que considere que essa decisão seja sustentável, realista, faça sentido. Todo mundo a critica fora dos círculos do governo. Já consideramos, em condições normais, que seria muito difícil sair, resolver todas as pendências, a economia, a imigração, que são temas extremamente complexos e onde há importantes divergências com a União Europeia. Com esta pandemia e a recessão econômica que se seguirá, isso é impensável."

Nos corredores da União Europeia, em Bruxelas, diplomatas se perguntam se Johnson vai solicitar um prolongamento do período de transição, que vai até 31 de dezembro. O choque provocado pela pandemia seria o pretexto ideal, mas existe um porém: o Reino Unido teria que contribuir para o próximo ciclo do orçamento europeu. Algo que parece uma linha vermelha para os defensores de um Brexit duro.

Com informações de Anissa El Jabri, da RFI, e agências