Arthur Virgílio diz que aguarda resposta de pedido feito a Macron para combater Covid-19 na Amazônia
Em entrevista ao jornal Libération, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), critica o negacionismo e a irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro na gestão da crise sanitária do novo coronavírus. O prefeito de uma das cidades mais afetadas no país pela Covid-19 pede ajuda à França, como membro integrante do G7, para enfrentar a epidemia.
Na entrevista publicada na edição impressa nesta segunda-feira (11), Arthur Virgílio explica as dificuldades encontradas pelos governadores e prefeitos para enfrentar a epidemia no Brasil. Virgílio se justifica por ter lançado uma campanha de choque na TV com imagens de Guayaquil, no Equador, onde corpos ficavam estendidos nas ruas e mortos da Covid-19 foram enterrados em caixões de papelão. O intuito foi fazer os habitantes de Manaus obedecerem à quarentena, diz o prefeito. Segundo ele, o número de doentes diminuiu, mas a capital do Amazonas continua sujeita a uma explosão de novos casos, principalmente em dois bairros que concentram mais da metade dos 2,1 milhões de habitantes da cidade.
Utilizando a mesma expressão do presidente Emmanuel Macron ante o coronavírus, Virgílio declara: "Nós estamos em guerra". "Nós precisamos de medicamentos, respiradores, voluntários e equipamentos de proteção individual", destaca o prefeito. Ele recorda que 96% da Floresta Amazônica está preservada em seu estado, devido ao envolvimento dos moradores na conservação deste patrimônio natural. Mas com a recessão que virá após a pandemia, "as pessoas terão a tendência de derrubar as árvores em busca de um meio de subsistência", adverte.
Virgílio diz que pediu ajuda ao presidente francês e que chegou a hora de Macron mostrar que seu ativismo pela Amazônia não foi apenas propaganda para agradar a opinião pública francesa. "Espero com impaciência a resposta de Macron, para saber se vou continuar a admirá-lo ou não", afirma o peessedebista.
"Genocídio indígena"
Virgílio está preocupado com a população do interior do estado, onde praticamente não há leitos de UTI e a rede pública de saúde é precária. A epidemia avança nas 62 cidades do Amazonas e, devido às longas distâncias, os doentes não terão condições de chegar à capital para serem socorridos. "Eles vão morrer em casa ou no caminho", lamenta.
Com 1,5 milhão de km2, uma área maior que as da França, Espanha, Suécia e Grécia somadas, a Amazônia ainda tem a particularidade de abrigar indígenas, cujo modo de vida, segundo Virgílio, seria incompatível com o distanciamento social. "Se o vírus chegar às tribos indígenas, não será diferente de um genocídio", estima o prefeito.
Virgílio denuncia a irresponsabilidade de Bolsonaro, que "sem nenhum fundamento" afirma que o isolamento social criou dez milhões de desempregados adicionais no país. Também condena a "atitude insensata" do presidente de ir até o Supremo Tribunal Federal, com um grupo de empresários, pressionar os ministros a decretar a reabertura de fábricas e do comércio.
O prefeito de Manaus relata a subnotificação dos casos no Brasil, onde de acordo com cientistas haveria de 3,8 à quatro vezes mais mortes provocadas pelo vírus do que os números divulgados pelo Ministério da Saúde.
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