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Franceses propõem doar dias de férias para agradecer atuação de médicos e enfermeiros na crise da Covid-19

13/05/2020 13h00

Um grupo de deputados franceses propôs um projeto de lei autorizando que a população doe parte de seus dias de férias para médicos e enfermeiros. A medida é apresentada como uma forma de agradecimento ao esforço dos funcionários do sistema público de saúde diante da pandemia de coronavírus. A ministra do Trabalho se mostrou favorável à ideia.

O projeto foi apresentado na terça-feira (12) por uma centena de deputados do partido A República em Marcha (LREM), sigla do presidente Emmanuel Macron. Segundo Christophe Blanchet, um dos parlamentares à frente da iniciativa, a ideia nasceu de uma "frustração" dos franceses que gostariam de expressar seu agradecimento aos médicos e enfermeiros, além das sessões de aplausos que fazem diariamente, sempre às 20h.

De acordo com a proposta, os empregados do setor público ou privado poderiam doar uma parte de seus dias de férias pagas "para aqueles que lutam diretamente contra o coronavírus". "Eles sabem cuidar de nós quando sofremos, então temos que saber cuidar deles quando saírem para descansar", declarou Blanchet.

O dispositivo prevê que as doações, feitas pela população de forma voluntária, sejam convertidas em cupons entregues aos funcionários do sistema de saúde. Depois, eles poderiam utilizá-los para pagar despesas de hotel, excursões ou atividades de lazer ligadas às férias.

Na França, os assalariados e funcionários públicos têm, no mínimo, cinco semanas de férias pagas por ano e esse tipo de doação já existe em algumas empresas do país. Geralmente, ele é usado por pessoas que doam dias para ajudar colegas de trabalho que enfrentam dificuldades, como em caso de doença grave ou morte de familiares.

O projeto apresentado visa ampliar o sistema, possibilitando que todos os assalariados do país possam contribuir com uma espécie de fundo de solidariedade específico para médicos e enfermeiros. Os deputados ressaltam que se todos contribuírem, a iniciativa poderia representar mais de 20 milhões de dias doados.

O governo reagiu rapidamente ao projeto. Durante um discurso na Assembleia Nacional, a ministra do Trabalho, Muriel Pénicaud, disse, sob aplausos, que a iniciativa é "interessante" e que apoia a proposta. "Vamos trabalhar juntos sobre as modalidades de execução", completou, lembrando que o projeto, que depende da boa vontade da população, também vai ajudar o setor do turismo, bastante atingido pela pandemia de coronavírus. "É uma maneira de agir de forma coletiva", destacou.

Enfermeiros querem mais salários e não cupons

Os sindicatos que representam os servidores da saúde também reagiram ao projeto, mas de forma menos entusiasta. Médicos e enfermeiros agradeceram o gesto, mas consideraram que cupons para custear viagens não é suficiente em um setor que reivindica melhorias há meses, antes mesmo da pandemia provocada pela Covid-19. Para eles, a melhor maneira de reconhecer os esforços da categoria seria aprimorar as condições de trabalho e reajustar os salários.

"A solidariedade deve vir da parte do Estado. Pedimos o reconhecimento do trabalho por meio de verdadeiras negociações sobre um aumento perene das remunerações e dos efetivos nos hospitais", declarou ao canal France 2 Patrick Bourdillon, representante do sindicato CGT no setor da Saúde e da Ajuda Social.

Homenagem no dia da Festa Nacional

O governo, por sua vez, informou que pretende homenagear os servidores da saúde durante a festa nacional francesa, em 14 de julho, quando tradicionalmente o país assiste a um desfile militar na avenida Champs-Élysées, em Paris. Segundo a porta-voz do governo, Sibeth Ndiaye, o presidente Macron deseja expressar "um reconhecimento simbólico do país inteiro por aqueles que se mobilizaram durante essa epidemia". Ainda não há informações detalhadas sobre o tipo de homenagem prevista.