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Roberto Azevêdo diz que renuncia à direção da OMC por razões familiares

14/05/2020 13h10

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, informou nesta quinta-feira (14) que irá abandonar o cargo no dia 30 de agosto, um ano antes de completar seu segundo mandato à frente da organização. A renúncia de Azevêdo, antecipada pelo jornal "Valor Econômico", caiu como uma bomba no momento em que a pandemia de coronavírus desestabiliza a economia mundial. Ele alegou que deixa o cargo por razões familiares e que não tem ambições políticas.

"É uma decisão pessoal, uma decisão familiar, e estou convencido que ela será útil aos interesses desta organização", declarou Azevêdo durante uma reunião por videconferência com todos os membros da organização. Azevêdo é casado com a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo. Nos últimos meses, ela agradou a ala mais radical do bolsonarismo ao adotar um discurso de ataques contra a Venezuela, Cuba e também questionar a atuação de ativistas de direitos humanos, destacou o jornalista Jamil Chade em seu blogue.

Mais cedo, o jornal "Valor Econômico" tinha antecipado alguns trechos do discurso de renúncia do diplomata. "Com esta decisão, evito que a organização fique presa a dois processos simultâneos: a preparação da próxima reunião ministerial e o processo de substituição do diretor-geral". O brasileiro disse estar convencido de que sua saída neste momento "ajudará a OMC a escolher seu novo caminho".

A saída prematura do brasileiro ocorre em um momento em que a economia mundial sofre o mais duro golpe desde a Grande Depressão da década de 1930. O comércio internacional é fortemente afetado pela pandemia do coronavírus, que fez afundar a produção industrial, agrícola e o comércio.

A demissão do chefe da OMC "chega em um momento muito ruim para a instituição", estima o diretor do Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII), Sébastien Jean. "O sistema comercial está profundamente desestabilizado tanto pelas tensões anteriores, incluindo as duras críticas do presidente americano, Donald Trump, as múltiplas violações dos acordos, a guerra comercial EUA-China e a paralisia do órgão de apelação, e por medidas tomadas em reação à crise, incluindo restrições às exportações", disse ele à AFP.

Diplomata de carreira, Azevêdo iniciou seu segundo mandato de quatro anos em setembro de 2017. Ele assumiu o comando do órgão em 2013, sucedendo ao francês Pascal Lamy. Antes de se tornar chefe da OMC, era, desde 2008, o representante permanente do Brasil nessa organização, onde conquistou a reputação de bom negociador.

A eleição do presidente Jair Bolsonaro e seu alinhamento automático a Donald Trump, menosprezando o papel dos organismos multilaterais, também criaram dificuldades para a permanência do brasileiro à frente da entidade. Em março de 2019, após um acordo firmado com Trump para obter o apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), Bolsonaro aceitou renunciar ao status de país em desenvolvimento, que conferia um tratamento especial na OMC. Em janeiro deste ano, os Estados Unidos informaram aos demais países do clube dos países ricos o seu apoio à entrada do Brasil na instituição.