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Aplicativo francês para rastreamento de infectados pela Covid-19 será testado por hackers

26/05/2020 16h42

A Comissão Nacional de Informática e Liberdades da França autorizou nesta terça-feira (26) a utilização do aplicativo para smartphones StopCovid, que vai rastrear pessoas contaminadas pela doença na França. Antes de começar a ser utilizado, ele será testado na quarta-feira (27) por um grupo de hackers.

Desenvolvido por um consórcio de empresas francesas (Orange, Capgemini, Dassault), sob o gerenciamento do Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação (Inria), o StopCovid poderá ser disponibilizado para utilização a partir deste fim de semana. Antes de a população começar a baixá-lo em seus smartphones, faltam ainda duas etapas: a autorização pela Assembleia e o Senado, que deve ocorrer na quarta-feira, e testes de tentativas de piratagem.

O "bug bounty" (busca por um "bug") do aplicativo será realizado por profissionais da cibersegurança do país. Eles estarão encarregados de buscar possíveis falhas a serem corrigidas pelos desenvolvedores antes de o mecanismo poder ser disponibilizado ao público.

Hackers "éticos"

O teste será realizado por uma comunidade de hackers "éticos", que nada tem a ver com piratas da informática que atuam sob anonimato. Consultores de informática, desenvolvedores, estudantes ou amadores foram convocados através da filial francesa da Yes We Hack, a maior plataforma de "bug bounty" da Europa, que conta com 15 mil hackers de 120 países diferentes.

Esses experts da informática são convidados a atacar o aplicativo e sua infraestrutura. No entanto, eles não trabalham gratuitamente: a cada bug encontrado, eles serão recompensados por um bônus cujo valor é baseado na gravidade da falha.

Normalmente, é o organismo que encomenda o teste que paga pelo serviço. Excepcionalmente, é a Yes We Hack que ir arcar com os montantes que variam de € 50 a € 2.000. "Faz parte do esforço coletivo e estamos interessados na segurança do que vai ser colocado em prática", afirma Guillaume Vassault-Houlière, cofundador da empresa, à rádio France Inter.

Como funciona o aplicativo

Esse tipo de mecanismo foi massivamente utilizado na Ásia durante a pandemia de coronavírus, especialmente na China e na Coreia do Sul. A versão francesa do aplicativo vai permitir ao usuário armazenar o registro de outras pessoas que também baixaram o StopCovid e com quem cruzou durante as duas últimas semanas, em uma distância de ao menos um metro e durante ao menos 15 minutos.

Ao descobrir que foi contaminado pelo coronavírus, o usuário pode avisar o StopCovid. A plataforma se encarregará, então, de prevenir os indivíduos que potencialmente podem ter sido infectados pelo doente.

O mecanismo estará disponível apenas para o uso voluntário. Ele funciona sem geolocalização - contrariamente ao sistema utilizado nos países asiáticos. É a tecnologia Bluetooth que permite aos aparelhos eletrônicos se comunicarem entre si dentro de uma curta distância.

Em testes realizados durante três dias, 60 militares realizaram uma série de exercícios para estudar o funcionamento do StopCovid. Com os smartphones em suas orelhas, nos bolsos, imóveis durante 15 minutos ou passando um próximo dos outros em diferentes distâncias e situações, o aplicativo captou 80% dos celulares em um raio de um metro. No total, 17 marcas de aparelhos fizeram parte do experimento, com modelos antigos e recentes.

Respeito à vida privada

No parecer publicado nesta terça-feira, a Comissão Nacional de Informática e Liberdades da França afirmou que o StopCovid respeita as diferentes disposições legislativas relativas à proteção da vida privada. A avaliação do órgão era esperado devido às críticas de muitos cidadãos sobre uma possível apropriação de dados e rastreamento permanente dos smartphones dos usuários do aplicativo. Muitos franceses já adiantaram que não utilizarão o mecanismo por medo de serem espionados pelo governo.

Em entrevista à France Info, o secretário francês de Estado para o Digital, Cédric O, garante que tudo está "funcionando corretamente", mas admite que pode haver falhas. "Seria falso dizer que o aplicativo não apresenta nenhum risco. Toda a tecnologia apresenta riscos sempre", salientou. No entanto, segundo ele, o StopCovid é "o mecanismo digital de saúde mais seguro da República francesa".