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Atletas e personalidades manifestam revolta após morte de negro pela polícia na segunda noite de protestos em Minneapolis

28/05/2020 11h24

A cidade de Minneapolis (norte dos EUA) viveu uma segunda noite de saques e incêndios na quarta-feira (28), em protesto contra a morte de George Floyd, um afroamericano de 46 anos. O homem negro morreu na noite de segunda-feira (25) durante um truculento controle policial filmado por uma testemunha da cena. O governador de Minnesota alerta que a situação é extremamente perigosa no estado, ao mesmo tempo em que novos vídeos parecem contradizer a versão da polícia.

Sob o pretexto que Floyd resistiu a uma ordem de prisão, policiais mantiveram o afroamericano deitado de bruços por pelo menos 10 minutos, enquanto um agente pressionava seu pescoço com o joelho. A cena foi filmada por uma pessoa que passava pelo local e ouviu o desespero de Floyd, que sufocava. O áudio do vídeo, que viralizou nas redes sociais, mostra que o negro pede ajuda dizendo que não consegue mais respirar.

A morte de mais um afroamericano, vítima de violência policial, provocou revolta no estado de Minnesota, onde, pelo segundo dia consecutivo, foram registrados protestos. Saques, incêndios e depredações prosseguiram até a madrugada de quinta-feira (29) e terminaram com um homem morto a tiros. A polícia usou gás lacrimogêneo e formou uma barricada humana para evitar que os manifestantes pulassem a cerca ao redor da delegacia onde os agentes acusados de matar Floyd trabalhavam. Os manifestantes incendiaram uma loja de autopeças e saquearam outro estabelecimento nas proximidades.

Em meio aos incêndios e atos violentos registrados durante a noite, um homem foi morto por um disparo na área das manifestações, anunciou a polícia, que prendeu um suspeito. Em outros pontos da cidade, como o local onde aconteceu a detenção de Floyd, manifestantes se reuniram pacificamente para exigir "justiça".

Os protestos também aconteceram em outras cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou a morte de Floyd de "triste e trágica" em um tuíte. Os quatro agentes envolvidos foram demitidos.

"Precisamos continuar lutando pela justiça", disse Will Wallace, um dos manifestantes.

A Promotoria informou que pediu a ajuda do FBI na investigação do caso, o que pode implicar que os agentes cometeram um crime federal.

"Quero que esses policiais sejam acusados de assassinato, porque foi exatamente isso que eles cometeram assassinato contra meu irmão", disse à NBC Bridgett Floyd, irmã de George Floyd. "Eu tenho fé e acredito que a justiça será feita".

Floyd pediu para o policial retirar o joelho de seu pescoço. "Não consigo respirar", implorou o homem, segundo o áudio de um vídeo de vários minutos filmado por uma pessoa que passava pelo local. O policial, um homem branco, diz para ficar calmo. Um segundo policial mantém os transeuntes à distância, enquanto Floyd não se mexe e parece inconsciente.

Um novo vídeo pode descartar as alegações da polícia de que o homem, suspeito de tentar passar uma nota falsa de 20 dólares, resistiu à prisão. Em imagens feitas pelas câmeras de um restaurante localizado em frente ao local da detenção, ele aparece com algemas nas costas sem oferecer resistência.

"Não podemos ter dois sistemas legais, um para negros e outro para brancos", disse o advogado da família, Benjamin Crump, à rede NBC.

O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, também questionou nesta quarta-feira "por que o homem que matou George Floyd não está na prisão", dizendo "se você ou eu tivéssemos feito isso, estaríamos atrás das grades".

"Vidas negras importam"

Muitas personalidades do mundo da política, da mídia e do esporte denunciaram a violência injustificada da polícia contra os negros.

"É um lembrete trágico de que este não é um incidente isolado, é parte de um ciclo de injustiça sistemática que ainda persiste em nosso país", disse o ex-vice-presidente e candidato democrata à presidência, Joe Biden. O ex-vice de Barack Obama comparou esse caso à morte de Eric Garner, também negro, em Nova York em 2014, após ser sufocado quando foi detido por policiais brancos por suspeita de vender cigarros contrabandeados.

O caso de Garner contribuiu para a ascensão do movimento de protesto "Black lives Matter" (em português "Vidas negras importam"). Ao longo dos anos, outras mortes de negros americanos por policiais brancos causaram protestos em várias partes do país.

O mundo do esporte também se uniu aos protestos contra a violência policial feita à comunidade afroamericana. Um exemplo disso foi a ação de vários jogadores profissionais, como Colin Kaepernick, que se recusou a se levantar enquanto o hino dos Estados Unidos tocava em sinal protesto.

O astro da NBA, LeBron James, postou no Instagram a imagem do policial com o joelho no pescoço de um Floyd algemado, juntamente com outra fotografia de Kaepernick, ajoelhado durante a execução do hino antes de um jogo. O líder do Los Angeles Lakers escreveu: "Você entende agora ou ainda é confuso para você?"

Com informações da AFP